Deserto do Atamaca, Chile, agosto de 2011. Ao chegar à planície do Vale de La luna, me senti em completa solidão e paz. Apesar de estar acompanhado de um guia e mais três pessoas naquela jornada, eu consegui ficar sozinho em meus pensamentos. Eu Já havia sido diagnosticado com Esclerose Múltipla há oito anos e estava em busca de uma vida mais próxima possível da que eu tinha antes dela. Quando parti para essa viagem, eu não sabia o que encontraria, mas sabia muito bem o que desejava encontrar: o equilíbrio, ter o controle sobre meu corpo e minha mente.
Eu planejava essa viagem como tantas outras a muito mais tempo do que possam imaginar. As montanhas e os desertos já me fascinavam quando eu ainda era criança. Marcava no mapa mundi todas as regiões onde estavam as Altas Montanhas e todos os grandes Desertos e lá estava ele: o Atacama, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Quando comecei a andar no deserto, não senti em nenhum momento alguma dor, alguma estafa ou qualquer outro sintoma que por muitas vezes surgem em espasmos, por algum esforço físico ou estresse mental, nenhuma fadiga. Acompanhava o passo do guia com tanta firmeza, ultrapassava grandes dunas com tanta desenvoltura que me surpreendi. Eu já estava em um processo de treinos e usando o esporte como medicamento, foi o meu tratamento para a EM, e então percebi também que havia mentalizado tudo isso da forma mais positiva possível. Não comentei em nenhum momento ali o fato de ser paciente de EM, eu era mais um, dentre tantas pessoas de outros lugares do mundo que estavam lá, e desejei que assim fosse.
Chegando ao alto da planície no fim da tarde, sentei e peguei minha garrafa de água para me refrescar, obsevando um por do sol único, quando de repente, senti um vento gelado e voltei no tempo. Lembrei-me de quando eu era mais jovem e das noites frias de Curitiba. Eu adorava andar de volta para casa e naquela época eu já era um viajante de desertos, sem saber. Pensava no que tinha acontecido no dia, o que aconteceria nos anos que estariam por vir. Nossos desertos interiores.
E quantas histórias aconteceram. Estando sozinho ou não, sempre existirá aquele lapso de tempo para refletir ou agir. Todos nós temos esses momentos. Nossas dúvidas, nossas angústias, nossas vitórias, nossas alegrias. Viajantes de desertos têm dentro de si a capacidade de realizar seus desejos sejam eles quais forem. Em sua mente e no seu coração descobrem um território em que apenas eles pisam.
Portanto, os desertos me ensinaram a atravessa-los e supera-los, eles de alguma forma sempre estarão ligados aos meus pensamentos. Naquele momento de reflexão no Atacama, entre uma lágrima de conquista e um sorriso de alegria descobri que não estava sozinho, a EM estava lá comigo ao meu lado me motivando a encontrar outros viajantes e dizer: – sim você também conseguirá, acredite, seja um viajante de desertos, estarei sempre esperando de braços abertos. Good Vibes!!!