Como reagir a uma notícia que pode mudar de uma hora para outra seu destino e sua vida? Existem duas possibilidades: bem ou mal. A forma como vamos lidar com ela, esse sim é o ponto em questão.
Lembro-me como se fosse hoje, a divulgação do diagnóstico no hospital sobre a Esclerose Múltipla. Como nada havia sido dito sobre o que estava ocorrendo comigo e eu também desconhecia informações sobre ela, apenas respondi:
– Ok, vamos a cura. O que devo fazer?
Na época, meu médico me olhou com surpresa e me disse que não havia cura, que existiam tratamentos e injeções para aliviarem os sintomas, mas que minha vida a partir daquele momento sofreria muitas mudanças, boa parte de minhas atividades teriam de ser reduzidas.
No início, por recomendação, foi o que fiz, as reduzi. Recuando em tudo. Hoje, acho até engraçado, mas isso não durou muito. – Eu precisava trabalhar, namorar, continuar praticando esportes. Essa era minha vida e eu gostava muito dela. Então, mesmo com as recomendações e injeções, procurei ajuda e encontrei outras opiniões, não uma que me desse todas as respostas, mas a mais coerente. Nunca fiquei esperando ajuda ou soluções caírem no colo. Quando você se movimenta, algo sempre acontecerá.
Em dezembro do ano passado, em um sábado, estava treinando no Espaço Funcional, quando a Monica, dona do Espaço me perguntou:
– Chico, quer ir correr a prova da Bravus amanhã? A Nani, uma das alunas, não poderá ir, e como sei que na época em que montamos o grupo você não podia comparecer, quem sabe!? – E foi assim, de última hora, uma gentileza , uma lembrança. E lá fui eu com mais 14 pessoas para a prova.
No domingo, nossa largada seria às 14:10, então marcamos um ponto de encontro e logo todos estavam lá. Havia mais de 10 mil participantes, os grupos largariam por horários, fazendo com que o fluxo da prova e a desenvoltura dos outros grupos não ficassem comprometidos. Em meu deserto interior, pensei: ”De todos esses participantes, será que há mais pessoas com EM, como eu, ou com outras superações a serem conquistadas aqui?” – Eu acreditei que sim.
Para quem não conhece, a Bravus é uma corrida cheia de obstáculos, que ocorre em São Paulo. Você corre, salta, pula, escala paredes, carrega objetos, enfrenta água super gelada, lama, choques, tem de tudo! A maioria forma equipes, com o objetivo de chegarmos todos juntos, ajudando e superando.
Em uma das provas, o objetivo era subir uma rampa super inclinada. Como já estávamos cheios de lama, lembro de sair correndo e, quase no topo, dar um salto. Mãos vieram ao meu encontro para me puxar, nem sei o nome de quem me ajudou, mas depois, troquei de lugar com essas pessoas para ajudar outras. E assim foi… Solidariedade total até o fim.
Depois de três horas, nosso grupo que continha 15 integrantes, cruzou a linha de chegada. Juntos, ninguém ficou para trás. Talvez eu não tenha demonstrado o quanto, mas me emocionei muito em estar com eles naquele momento. Iguais, sem discriminações, como infelizmente ainda vejo e ouço com relação à EM.
Procurei então, um significado para tais ações e escolhi uma palavra: Bravura.
Seu significado e origem: do italiano bravo, atrevido, audacioso, possivelmente do latim BRAVUS, que significa vilão, criminoso, de pravus “desonesto”.
Eis uma palavra que começou com designação negativa e que acabou superando expectativas, assim como quando me disseram: RECUE.
GOOD VIBES