Lá na lataria velha da minha cachola, fiz um texto sobre a cidade de São Paulo.
Enalteceria sua vocação de mãe acolhedora da mistura de muitas gentes, raças, cores, sotaques, hábitos?
Ou de uma madrasta que escolhe pela força do trabalho os selecionados pra desfrutar seus bens?
Falaria de sua fundação remota ou de um sacerdote que começou uma vila?
Discorreria como a música sobre sua garoa, esquecida nos múltiplos climas num dia aos quais os paulistanos se acostumam, com seus guarda-chuvas, blusas de frio e efeitos cebolas?
Enfrentaria as periferias sórdidas de pobreza e mal estar?
Descansaria em seus parques cujo verde se esconde atrás do cinza das construções e poluição?
Andaria de ônibus, metrô e trem no passo apertado do dia a dia?
Deixaria me levar pela corrente incessante do tempo, da velocidade que faz a regra dessa cidade?
Iria a shows, assistiria filmes que só passam aqui, comeria nos mais altos restaurantes estrelados e também comeria o prato do dia no barzinho lá da esquina ?
E passando por tudo isso me julgaria paulistana e com ousadia escreveria sobre sampa, sempre sampa?
Oh meu, tá de graça comigo? Eu só falaria paulistanês?
E talvez a graça da leitura, esteja na poesia concreta de suas esquinas, na deselegância de suas meninas..”