Falo a verdade quando digo que não gosto de viajar; não gosto mesmo, mas gostei de ter viajado agora.
Gostaria como sempre de fazer algumas reflexões a respeito como “quebradinha” cadeirante.
Nunca fico entusiasmada para viajar, mas me propus a uma “aventura “.
Claro, tive apoio desde o começo, da minha turma de viagem, minha mãe e minha irmã.
Apoio quer dizer financeiro, logístico, humano para tudo.
Explico logístico, eu sozinha não consigo administrar passagem de avião, translados, hotéis. Porém, esse meu desamparo, julgo que seja devido à falta de experiência em viagens, bobeira e talvez até do fato de negar a viagem.
O que me angustia com uma força maior é a insegurança, o fato de não saber o que esperar. Por isso que reforço minha expectativa de “aventura”
Embarquei com o auxílio cadeirante da empresa aérea, a cadeira foi até a porta do avião, mas no “check in” me colocaram no fim do avião, a entrada do avião era pela frente, e pensei: como vou chegar lá? Devo voar, ou pensar na minha capacidade de abdução e levitar até lá? Minha turma deu um jeito no “check in”, para ficar mais para frente, mas tive que caminhar com minhas pernas titubeantes e o apoio de minha irmã. Aventura, pensei, é uma aventura.
No hotel, todos super atenciosos, tínhamos um quarto acessível, espaçoso, podia caminhar de cadeira, entre as camas e no banheiro.
Fomos dar um passeio ao redor, conhecer as vizinhanças, comer algo.
Aí começou nossas desventuras para atravessar as ruas; imensas valas por onde corria água, ao lado do meio fio da calçada. As rampas para a cadeira, esburacadas, ou cheias de saliências de cimento. As ruas, nem comento, com buracos, construções que me obrigaram andar no meio dos carros.
Não muito diferente de Sampa, mas é que eu tinha lido em vários locais que a cidade era acessível; e eu bobinha acreditei. Afinal pensei, acessível para quem?
Encontrei pessoas que também se propunham a ajudar nos buracos para atravessar as calçadas e também pessoinhas que estacionavam suas motos nas rampas das cadeiras e na faixa de pedestre, pessoinhas que viam as dificuldades da minha irmã com a cadeira e se limitavam a olhar.
Tenho impressão que a acessibilidade é uma opção muito cara, e, pior que isso é amadora. Às vezes, ela só existe porque há muita gente de boa vontade que faz acontecer.
Ver paisagens maravilhosas da natureza e não poder desfrutar, traz dois pensamentos, primeiro: achar que nossa experiência tem que ser de desfrute, não de admiração ou de interação; segundo que somos uma carcaça velha com limitações. A beleza faz sofrer e, infelizmente, faz com que a gente tenha pena de si mesmo.
Não, não estou triste; estou agradecida à minha mãe e à irmã que me ajudaram; ao exército de pessoas desconhecidas que muito solicitas se compadeceram não por pena, mas por humanidade e carregaram a cadeira literalmente.
Estou desejosa de que no futuro próximo a inclusão não seja apenas boa vontade, mas fruto de planejamento e investimento. Vontade política e a empatia de colocar-se na pele de um cadeirante ou de quem esta ao seu lado.
Viajar, vamos acreditar por enquanto que é uma aventura…