Tantos locais para conhecer, tanta coisa a fazer, mas como chegar, com ir até o local? Pois é, antes não precisava pensar como percorrer o caminho e chegar até o destino. Pegava o carro ou pegava o transporte coletivo (ônibus, trem ou metrô) e simplesmente só me preocupava com o que deveria e queria fazer.
Tinha um propósito, um objetivo, o caminho a ser percorrido e de que forma, isso não era importante, era apenas uma atividade meio para alcançar o objetivo. Despois da Esclerose Múltipla essa etapa tem de ser planejada.
Atualmente uso um andador com assento e rodinhas, não posso dirigir, então e percurso tem de ser percorrido a pé ou de transporte coletivo. E aí? Como fazer?
A chave para resolver estas questões é o planejamento. Quantas coisas posso fazer no dia? Está quente? Chovendo? Abafado? O clima influencia no planejamento, afinal parte do percurso sempre é percorrido a pé.
Chovendo não consigo segurar o guarda-chuvas e o andador ao mesmo tempo. Aí tenho que esperar a chuva passar. Sempre quando tenho algum compromisso penso nessas questões, como posso me virar sozinha, como fazer o que tenho que fazer sozinha?
Se tiver um auxílio, uma carona estou no lucro, procuro manter minha autonomia -, procurando fazer o que preciso sozinha, sem contar com a ajuda de terceiros, sejam familiares ou até mesmo transporte individual, como o táxi.
A Esclerose Múltipla causou algumas sequelas e por conta disso preciso me adaptar para conseguir fazer o que desejo. É importante me sentir capaz, isso traz uma satisfação imensa.
Não estou falando de coisas muito complicadas, tarefas simples como comparecer ao INSS, ir ao banco, ir ao shopping, todas essas coisas, quando consigo, executá-las fico feliz, me sinto plena e capaz.
Mesmo se depois precisar de uma cadeira de rodas, pretendo continuar fazendo estas atividades. Coisas simples, porém que preservam minha individualidade e independência.
Importante sempre mantermos a mente aberta e encarar os problemas e tentar vencê-los. Vale lembrar aquela historinha da água, existe uma pedra no caminho dela e para superar esse obstáculo ela simplesmente a contorna, mostrando que se não podemos retirar o obstáculo, podemos com certeza, traçar uma nova rota, mudar um pouco o caminho, para conseguir alcançar o objetivo.
Estou viva e posso fazer muitas coisas, apesar de algumas limitações. Penso que devemos circular pelas ruas, pelos transportes públicos, pois só assim seremos vistos, observados, e só dessa maneira faremos com que as pessoas notem as nossas dificuldades e possam pensar em como podemos ser ajudados.
Cabe às autoridades públicas pensar nas questões de acessibilidade, mas temos que nos mostrar para que elas e a sociedade como um todo entenda e veja o que é preciso ser feito para que todos, efetivamente, possam circular com autonomia e liberdade.
Na Faculdade de Direito ouvi uma frase, que confesso, só consegui compreendê-la plenamente agora com as limitações que tenho. A frase é a seguinte: “precisamos tratar diferentes aqueles que são diferentes para que esses tenham acesso às mesmas coisas que os demais”.
Caminhos, aparelhos e objetos diferentes, modificados e adaptados são fundamentais para que possamos estar sempre livres e plenos.
A liberdade é um bem preciosíssimo que deve ser preservado sempre e para todos. Respeito é sem dúvida a válvula propulsora para que isso ocorra.
O que todos precisamos é de respeito e de tratamento digno para que nossa existência não seja em vão e passe despercebida aos olhos dos outros.
Pesemos nisso…