A jornalista e advogada Andrezza Rodrigues, de 37 anos, foi diagnosticada há exatamente dois anos e sete meses com esclerose múltipla, doença degenerativa que ataca os neurônios, afetando todos os sistemas do corpo e que, infelizmente, não tem cura. “No momento em que recebi a notícia, minha vontade foi de morrer. No meu caso, a doença afetou minha vista esquerda, a sensibilidade do rosto e minha locomoção”, lembra Andrezza, que chegou a ficar dois meses tetraplégica. “Fiquei muito debilitada física e psicologicamente. Confesso que minha família foi fundamental para superar o trauma da notícia. Chorei muito na época. Olhava para meus sapatos de salto e entrava em desespero. Mas, o pior foi ver minhas sapatilhas e imaginar que poderia nunca mais calçá-las”, recorda.
Mas foi aí que Andrezza se lembrou: “Tenho uma família querida, um filho lindo e toda uma vida pela frente. Restavam duas opções: desistir ou lutar pela vida. Então, resolvi optar pela segunda. Assim, tirei a tristeza do rosto e voltei com o sorriso. Encontrei um médico fantástico, Antônio Pereira Neto, que me disse: ‘Você é muito grande para essa doença’. Assim, me encaminhou para a fisioterapia. O primeiro dia de sessão foi horrível, pois algumas coisas básicas que fazia antes não conseguia mais. Porém, a fisioterapeuta se tornou uma grande incentivadora e não deixava a tristeza se apossar de mim. Ela passou a filmar as minhas sessões, pois minhas pernas já estavam com uma força grandiosa, na qual ela mesmo não acreditava… Todos os dias, depois das sessões de fisioterapia, calçava minhas sapatilhas de balé e treinava um pouco em casa”.
Hoje, Andrezza faz terapia. “Comecei com duas sessões por semana, pois estava muito assustada com tudo o que estava ocorrendo e numa depressão inexplicável. Também sou acompanhada por uma psiquiatra maravilhosa, que, por coincidência, tem a mesma doença. Na primeira sessão, ela me disse que eu seria muito mais feliz com a esclerose múltipla. Assustei-me, mas, hoje, entendo perfeitamente o que ela falou. Recebi alta da fisioterapia. Vou uma vez por semana à minha psicóloga e uma vez por mês à minha psiquiatra e de quatro em quatro meses ao neurologista.”
Andrezza ressalta que a doença mudou sua vida em todos os sentidos, no olhar a vida de uma maneira diferente. “Sou mãe, mulher, filha, irmã, uma amiga nova e, com certeza, bem melhor. Antes não tinha tempo para nada, muito trabalho e queria abraçar o mundo. Hoje, tenho tempo para tudo. Vivo um dia depois do outro, sempre com um sorriso no rosto porque não adianta ser infeliz. Meu neurologista e minha fisioterapeuta diziam que eu precisava realizar uma atividade física, mas o medo não permitia, até que entrei novamente para o balé.”
RENASCIMENTO
Andrezza faz balé desde os 4 anos e só parou quando teve o filho e quando a doença paralisou suas pernas. “Então, a fisioterapeuta puxou minha orelha e falou: ‘Você não pode fazer pilates, não pode fazer ioga e nada de impacto, mas pode fazer aquilo que sempre amou, o balé’. Foi aí que procurei uma nova escola de dança e encontrei a Casa, um lugar espetacular, com uma professora maravilhosa, Deborah Lopes, que entendeu o meu corpo e o meu amor à dança. Já estou dançando três vezes por semana. Renasci.”
Ela conta que o amor da família e das amigas está sendo fundamental no seu dia a dia. “Faço tudo o que gosto, danço e estudo muito. A doença não me impede de fazer nada. É apenas uma questão de readaptação à vida. Hoje, cuido muito mais de mim e me amo mais. Considero-me uma pessoa hiper, mega, superfeliz e, acho, sim que qualquer pessoa que receba um diagnóstico da doença pode viver bem e feliz. Quando recebemos uma notícia de uma doença degenerativa e incurável não devemos desistir da vida, pois ela é bela e feita para viver.”
Andrezza pensa em dar palestras de superação. “Sei que uma notícia dessa deixa a gente sem chão, por isso preciso passar minha experiência de vida para outras pessoas. A superação é tudo, não podemos ficar sentados e lamentando uma doença, seja ela qual for. Precisamos, sim, levantar a cabeça e correr em busca de nossos sonhos.” Ela diz que sempre gostou de ajudar as pessoas e agora mais do que nunca. Hoje, ela faz balé como sempre fez e garante que a felicidade voltou a reinar em sua vida. “É importante lembrar que a dança não é apenas uma forma de sair do sedentarismo, mas, sim, uma maneira de encontrar a felicidade. Posso garantir que sou uma pessoa muito feliz, graças a Deus!”