O RETORNO

Escaladores desafiam suas montanhas. Viajantes suas estradas. Analisam suas vias, seus caminhos, suas dificuldades, seus riscos, seus mapas, suas passagens, seus apoios, seus equipamentos, seus planejamentos.

 

Olham em volta, contam com suas equipes e seus parceiros, acreditam na sua força e nos seus sonhos. Enquanto caminham para seus objetivos, observam a natureza e também a natureza humana, como ela reage a tudo isso, observando cada passo, cada detalhe, cada passagem, cada voz, ruídos, sons, aromas, tudo aquilo que faça lembrar esse momento, cada presença, cada olhar retribuído a quem cruza seu caminho e provavelmente nunca mais visto.

 

Para escaladores, somente o topo de sua montanha particular é seu objetivo, para viajantes o tocar do solo tão desejado. Mesmo ampliando e alcançando tudo isso, os riscos existem e somos vulneráveis a isso.
Mas por que continuar? Para poder voltar!

Sabemos que temos que retornar, para escaladores existe o dobro de atenção, pois nesses momentos de voltar um relaxamento considerável ocorre e os acidentes acontecem, muitos gastam quase toda a energia em uma subida e esquecem-se do retorno, para viajantes ocorre uma melancolia, uma aflição, um desejo de mais um dia para finalizar seus objetivos no tempo esperado.

 

Mas lembre-se que retornar é muitas vezes prioritário, mais do que se imagina. Podemos imaginar que não existe diferença para nós, mas é nessa transição que nós portadores de Esclerose Múltipla precisamos nos concentrar o “nosso retorno”. E nesse contato tão renovador de nossa alma e que conseguimos uma regeneração em nosso mundo interior. Estávamos em nossas subidas ou em nossas estradas, quando recebemos um diagnóstico, nós desviamos momentaneamente, vontade de desistir, de abreviar esses desafios, mas tivemos que retornar, pois não existe desejo maior em mostrar que podemos. Portadores ou não.

 

Retornar significa estar consciente de ter seus deveres cumpridos, para consigo e para com o próximo, trazendo e ampliando conhecimentos, incentivando cada um a sua volta a descobrir os melhores motivos de ir em busca de uma melhor cultura social e moral.

 

Já se imaginou simplesmente sozinho como apenas uma voz, uma mente, um pensamento, pode ser em torno de uma imensa montanha e desafiadora ou no meio de uma cidade da qual ninguém conhece você?

 

E nesse exato momento, de um deserto interior, que buscamos a alegria de forma agradável e iluminativa. Projetamos mentalmente o que aprendemos, não apenas o que vimos e sim o porquê de tudo isso. Aprendi em todos esses momentos a lembrar de sempre sorrir, quando um cansaço ou uma estafa está por chegar. Um olhar em volta e tudo retorna ao princípio.

 

O grande escritor português, José Saramago, escreveu esse texto sobre viajantes que chegou as minhas mãos em um momento muito importante e decisivo na minha vida há alguns anos: – “A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: – Não há mais o que ver, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”

Precisamos, portanto conhecer o que está por acontecer nesses momentos e quando isso acontece, somos nós que causamos esses efeitos, sempre constatando que há vida em toda parte, movimentos e ações. Não existe diferença entre a altura de uma montanha ou o tamanho de uma estrada e sim como você conseguirá retornar, narrando suas experiências de forma edificante, das lições absorvidas, a harmonia e o entendimento que tanto precisamos, simples assim. GOOD VIBES