Chego sempre cedo no dia que tenho consulta no hospital da Clínicas porque há muita fila no ambulatório da Neurologia. Podia passar o texto inteiro descrevendo minhas sensações em relação ao local, às urgências e ao circo de horrores, que é tanta gente doente.
Entretanto, – preferi falar de um segmento esquecido no dia a dia, só referenciado um domingo por ano.
São as mães do HC: falo sobre mães heroínas que acompanham seus filhos às consultas. São novas e idosas, e me preocupo mais em falar das mães das crianças da neurologia. São crianças com paralisia cerebral, com deficiências neurológicas: muitas não falam, não andam, babam e gritam. Estão impacientes aguardando sua consulta chorando. E as mães pacientemente aguardam, fazem de tudo para confortar seus rebentos. São mães-polvo, tem braços suficientes para mochila com fraldas, empurrar cadeira de rodas ou carrinho, bolsa e papelada: exames e prescrições. São mães que aceitam crianças com “buraco” na cabeça, a estenose encefálica.
E as crianças grandes- maiores que elas próprias, em força e estatura.
Por que são esquecidas em sua dor e determinação?
São mães heroínas, não sei de onde vem sua força, mas as admiro.
Onde arranjam forças para embalar suas crianças mal “acabadinhas”?
Eu as homenageio com simples palavras: queria eu alcançar esse patamar de bondade…