Era para ser como um domingo qualquer. Eu tinha acabado de jogar uma partida de tênis com meu pai no clube que frequentávamos o Santa Monica. A diferença de idade entre nós de apenas 20 anos nos permitiu estar sempre praticando alguns esportes juntos. Curitiba tem um clima muito maluco, me lembro de estar calor, mas o horário da tarde sempre da aquela esfriada, o vento que bate no rosto como eu sempre digo. Voltando para a sede do clube, encontramos com um amigo do meu pai que me perguntou: você joga futebol? Eu disse sim, ele então me disse do time de futebol do clube e me convidou para ir, e nos encaminhamos para os campos de futebol.
Chegando lá vi vários garotos já no aquecimento e batendo bola. Era um campo enorme de areia. O treinador era já um conhecido, era um ex-jogador do Atlético paranaense o Zezinho. Imagina a cena, eu uniformizado de tenista e fui até lá. Ele não me reconheceu no começo e perguntou você jogar em qual posição, eu disse: Goleiro. Foi meio que no instinto. Quando cheguei vi outro goleiro que era filho de uns amigos de meus pais e não vi outro. Eu jogava bem na linha sou canhoto o que era raro na época, mas já tinha jogado no gol algumas vezes e me saído bem. Acho que na hora pensei bom no gol eu jogo e posso ajudar. Primeiro tempo do treino, levei dois gols e um olhar do treinador de reprovação, ele me disse anos mais tarde, você de jogador de tênis, o que eu poderia imaginar, goleiro que não ia ser, rsrsrsrs.
No intervalo desci até o vestiário do clube. Eu tinha um armário o 617, entrei nervoso e Zeca, que era o senhor que cuidava do vestiário e sempre me viu sorrindo foi atrás de mim e perguntou o que tinha acontecido. Contei e ao abrir meu armário, encontrei ali o meu talismã; uma camisa de goleiro azul da Adidas. Eu tinha ganhado do meu avô quando estive em São Paulo nas férias. Não sei por que, mas ela estava lá esquecida em algum fim de semana, deixei lá sem motivo algum. Meus olhos brilharam e eu a coloquei como se fosse uma armadura, quando de repente o Zeca me entregou um calção e um meião da escola de futebol e disse, vai lá garoto, pega tudo. Voltando para o treino, tinha uma subida íngreme de grama que para aquele garoto de quase 15 anos era uma montanha. Quando cheguei, senti olhares de provocação, mas não me intimidei, começou o segundo tempo. E como se fosse hoje me lembro do Carioca, um dos melhores jogadores dar um chute no ângulo e a bola desviou em um garoto, mudando a trajetória, virei o corpo no ar e saltei na bola desviando para escanteio, eu só ouvi já na areia o carioca dizer, que defesa. E a bola por ali não mais passou. Tentaram, mas foi uma defesa atrás da outra e o meu time que era o dos reservas foi pra cima e empatou o jogo treino. Comemoramos como se fosse final de campeonato. No final agradeci e quando estava indo embora, o Zezinho que treinava esse time me chamou e me convidou para treinar. Voltando ao vestiário, entreguei a roupa que usei ao Zeca sorrindo e ele disse, os meninos que chegaram antes disseram que teve um cara novo no treino que pegou tudo e sorriu, eu agradeci timidamente e ele me disse, eu sabia, você tem alma de guerreiro, guri. Guri e garoto no sul. E assim começou uma das histórias mais bonitas da minha vida. Treinava o fim de semana inteiro com o Zezinho, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, aprendi táticas, a aguentar provocações, posicionamentos, coragem, determinação, a nunca desistir, senti dor, senti alegria, senti vida. E aquele time foi pegando corpo e força. Fomos tetra campeões inter clubes no Paraná, jogos memoráveis, decisões por pênaltis, uma união que vi poucas vezes na minha vida, nunca brigamos entre nós, não perdemos um campeonato sequer que participamos. O Zeca do vestiário, que também era nosso roupeiro e nos acompanhava nos jogos, em dois anos de nosso time, sempre me entregava separado dos outros a minha camisa e meu uniforme do time que também era azul, e dizia, pega tudo, sempre incentivando. Alguns de nós, mais tarde, fomos convidados a treinar em times profissionais em suas categorias de base, O Zé e o Glauco foram para Santa Catarina, eu fui para o Atlético paranaense treinei e joguei por lá um ano nos juvenis, o Paulo Rink virou profissional no mesmo Atlético, até na seleção da Alemanha ele jogou, outros foram para times de Curitiba. Mas o meu destino foi outro e me mudei para São Paulo com 17 anos, e aí outra história de goleiros começou e como a EM fez parte dela.
Continua… – Good Vibes