“…há momentos em que o desprezo pela humanidade nos cega para o que ainda merece ser salvo- João Pereira Coutinho -Viajando com Guliver”
Às vezes me sinto assim, desprezando minha humanidade e de outrem.
Às vezes são atos não honrosos bobos, como furar uma fila, ou ver um não deficiente usando uma vaga por direito de algum quebradinho. Não honrosos e importantes.
Por vezes são atos deploráveis como uma paulada num cachorro, e, algumas vezes, são execráveis como um assassinato.
Como podem existir ações que nos tornam capazes de acreditar na natureza humana?
Ainda assim, temos que acreditar que nosso desprezo é tão imperfeito, que podemos ser salvos por enxergar um pouco além.
Que força é essa que cega para aquilo que merece esperança?
A revolta é o algoz, da nossa cumplicidade.
Será que todos odeiam assim a humanidade ou só eu odeio? É um sentimento geral? Ou uma tentativa exclusiva minha, digna de nota ou sem relevância?
Concomitantemente, me traio com um sorriso inocente de um belo gesto humano.
Como podemos lidar com tanta contradição?
Amo a humanidade, mas a desprezo tanto?
Não, não nos deixemos cegar pelo desprezo, embora por vezes merecido; de tudo, somente podemos acreditar sempre.