TCHOUKBALL, o que é? Parte 2 – Blog do Chico

Cristina Rey, amiga, parceira de treino e professora de Educação Física, me perguntou: – Chico, vamos jogar Tchoukball? E eu perguntei: – O que e Tchoukball? Ela só respondeu dizendo: – Vamos! Você vai gostar! – E assim fomos, após um treino de funcional, numa sexta-feira. Quando ela me contou sobre o local, fiquei surpreso. Seria em um colégio chamado Rainha da Paz, muito perto de onde treinamos. A coincidência? Como muitos sabem, a escalada é meu esporte de alma e coração. Tive a honra de participar por um tempo da equipe da Associação Paulista de Escalada Esportiva e, nesses anos participei ativamente dos festivais escolares com o meu amigo e professor Denis. Sendo que, um desses locais era este colégio, que possui uma parede de escalada para as crianças. Quando chegamos ao treino, que era na quadra onde havia a parede, sorri ao lembrar das crianças escalando naqueles campeonatos e se superando. Logo, fui apresentado àquele grupo muito simpático, reconhecendo imediatamente uma das atletas – a Alessandra. Pois, seus filhos participaram de vários festivais de escalada e depois, o Reinaldo e a Monica. Me senti em casa. Eu tinha meus receios, apenas não os demonstrei. Estava retornando para esportes coletivos depois de um bom tempo. Já havia tentado em duas ocasiões, como me precipitei no processo de retorno, não obtive bons resultados. Por conta disso, já optava há alguns anos por esportes com parceria, mas com resultados individuais. Com a ajuda desses novos companheiros, consegui resgatar minha confiança em fazer parte de um esporte coletivo, desenvolver novamente a destreza individual, orientação, equilíbrio e força, trabalhando as funções cárdio-vasculares e neuromusculares e muito mais, o espírito de equipe. Pois, um atleta desse esporte tem a responsabilidade pelo arremesso ou passe, mas tem sempre a sua equipe em volta para ajuda-lo. Afinal, o que é o Tchouckball? Peguei um texto do site da Associação Brasileira de Tchoukball para que possam entender melhor: ”O Tchoukball é um esporte coletivo, jogado entre duas equipes com sete jogadores em uma quadra com as dimensões da quadra de basquete (regras oficiais) com uma bola e dois quadros (semelhantes a trampolins, inclinados a 55º), cada um posicionado de cada lado da quadra (comprimento). O objetivo da equipe atacante consiste em fazer com que a bola rebata em um dos quadros para que ela caia na quadra, sem que a outra equipe a recupere. Na prática, não há um lado para cada equipe; o campo de jogo é compartilhado por todos. Para arremessar no quadro é permitido até três passes para cada equipe. Durante o ataque, a outra equipe não pode interceptar a bola ou atrapalhar o adversário. Todo ato de perturbação ou obstrução de jogo é proibido, o jogador de tchoukball – no ataque ou defesa – pode desenvolver quase todos os movimentos possíveis sem temer ser impedido intencionalmente ou involuntariamente pelo adversário. Ele permite melhorar tanto o nível físico, psicológico e social O tchoukball nasceu dos pensamentos do Dr. Hermann Brandt durante os anos 1960. No decorrer de seu trabalho, este médico de Genebra se deparou com um grande número de atletas que se lesionavam durante a pratica esportiva.” Ou seja, é um esporte coletivo que recupera de lesões e o psicológico. Era tudo o que eu precisava. No primeiro ano de adaptação, nosso time foi ganhando, algumas dificuldades apareceram e um vice-campeonato brasileiro surgiu. Aconteceu em Maresias, nosso técnico, o Rogério, nos ajudou muito em nos tornarmos uma equipe. E assim, no ano seguinte, em 2016, houve superação, com muitos treinos, dedicação, disciplina tática, melhoras individuais de todos, entrosamento, respeito e cada um sabendo que podia contar com a equipe em defesa, ataque e o principal de tudo: a solidariedade nos momentos difíceis. Somos um time misto, formado por homens e mulheres, onde não existe discriminação. Se um está mais em forma que o outro ou se alguém tem mais habilidade. De onde você menos espera uma surpresa surgirá, basta acreditar. O resultado disso tudo nesse ano, foram dois campeonatos brasileiros. Um na quadra e outro na areia, com convocações para a seleção brasileira de Master. O mais importante não foram os títulos, mas sim, sermos capazes de fazer parte de grupos que nos apoiam e nos aceitam como somos. Quando o campeonato terminou, no ano passado, na praia de Maresias, após as comemorações, choveu muito. Mas mesmo assim, me veio pensamentos da turma de 1981. Lembrei de ter aceito todos com eram, sem preconceitos, pois eles precisavam da minha força e sabiam que podiam contar comigo. Lembrei-me da bolada que levei no rosto no jogo da final e o Marcelo me dizendo: – Levanta, guerreiro! Vamos ganhar! Lembrei daquelas pessoas consideradas errantes e renegadas vencendo seus desafios e comemorando muito quando ganhamos as duas olimpíadas. Então, me virei e agradeci em silêncio à essa turma do Tchoukball que me aceitou sem nenhum problema, mesmo sabendo que sou paciente de Esclerose Múltipla, pois quando alguma dor ou estafa me incomodava, sabia que poderia contar com eles. Estavam sempre ali me levantando e dizendo: Vamos em frente guerreiro! Ah, sobre o acordo com meu amigo Marcelo, de passar de ano e ele montar o time lá no colégio… Sim, ele passou e comemoramos muito. Depois de alguns anos morando em São Paulo, sempre fiz questão de ligar para meus amigos no natal ou ano novo, e a última vez que nos falamos, rimos das nossas histórias no lapso de tempo que nos foi dado, caminhando pela vida com muito mais coragem e força. E assim, nos despedimos: Valeu, Guerreiro! Obrigado! Então agora é minha vez de dizer: MUITO OBRIGADO! VALEU GUERREIROS! GOOD VIBES  

Tchoukball, o que é Tchoukball? PARTE I – Blog do Chico

Novo colégio, novos colegas. Um ano diferente em minha vida. Eu estava com 13 anos e fui estudar em um colégio chamado Tuiuti, no bairro das mercês em Curitiba.  Logo na entrada da sala de aula, me deparei com  alunos mais velhos do que eu, acho que da minha idade só tinha o Renato. Eram pessoas que haviam repetido  uma ou duas vezes e muitos já estavam um pouco desanimados, dava para ver nos seus olhos. A sala tinha no máximo uns 20 alunos. Tínhamos aulas incríveis, eram professores da universidade que nos davam as aulas, ou seja, liberdade de expressão e aprendizado. A sala era um tanto silenciosa, olhares perdidos pelas enormes janelas das salas, sempre davam uma visão a algum lugar muito bonito, era cercado de grandes gramados, tudo muito verde. E aos poucos fui me aproximando daqueles novos colegas, quietos em seus mundos e com o tempo aprendi o porquê daquelas reações. Minha irmã Giovanna que tinha 5 anos estudava comigo nesse colégio, então no caminho de mãos dadas íamos para as nossas salas eu  a deixava em  sua e o engraçado é que com ela que me aproximei de algumas pessoas. Lembro-me  da Márcia, da Andressa e da Luciana, elas eram mais velhas uns 2 anos do que eu e gostavam muito dela, quando percebi já estávamos conversando, algumas me explicavam o porque de repetir de ano, os problemas pessoais, pais separados, problemas de relacionamento, rebeldias. No Tuiuti havia duas olimpíadas, uma de estudos e outra de esportes. Um dia em uma aula de história vi a aflição de um amigo, o Marcelo. Ele já tinha 17 anos, era muito forte e um excelente atleta. Recebemos naquela semana uma agenda de jogos internos. Marcelo estava com dificuldades nas aulas e não queria repetir de novo, então fiz uma proposta: – você monta nosso time para as olimpíadas e eu ajudo nos estudos, pois tínhamos excelentes alunos só faltava aquela energia positiva. E assim, foi, nossa sala era a 7ª A e ficávamos revezando na liderança com  os anos mais velhos, ninguém acreditava. Nos jogos o nosso time foi tão bem montado que levamos as medalhas de primeiro lugar de vôlei e basquete, todos juntos, até que veio um jogo daqueles. Final do Handebol contra a temida turma do ensino médio. No futebol tínhamos ficado em terceiro. Começamos o jogo e no primeiro tempo estávamos perdendo. No intervalo e com um olhar de cumplicidade vimos que poderíamos ganhar. Fui para o gol, depois de uma bolada na minha cabeça e com algumas jogadas ensaiadas pelo Marcelo  viramos o jogo, ele puxou a responsabilidade para ele e fomos campeões com um gol dele no final. A sala inteira invadiu a quadra, comemorando. Agora faltava ganharmos o título de melhor sala nos estudos. Todos se superaram, principalmente as meninas, nas batalhas de português, matemática, artes e outras matérias, somando ponto a ponto e veio à etapa que eu mais gostava: poesia. E olha que eu caprichei, mas quis o destino que minha professora de português ficasse em dúvida  se eu tinha copiado algum trecho de alguma obra, me dando uma nota baixa, lembro até hoje ter colocado a estrofe: – como um violino tangente senti um amor intenso que vibrou em minha mente . Fiquei decepcionado, foi então que a sala se reuniu e me defendeu com unhas e dentes,  dizendo vimos ele fazer. Mas como tínhamos muitos pontos na frente, fomos campeões pelo conjunto todo, era isso que me importava. Todos se abraçaram e alguns choraram.  Que ano , aquele de 1981. Uma das maiores dificuldades que tive depois do diagnóstico de EM, foi participar de atividades coletivas. Ficamos em dúvida de nossa capacidade com relação a Sociedade, como será daqui para frente, como as pessoas irão enxergar nossas limitações, eu tive muitas decepções, profissionais, pessoais e no esporte também. Parece que você vai ser um estorvo ou um problema gradativo. E eu em muitas situações me senti assim, até que disse: – basta. Sou melhor do que antes, pois sei conviver com isso. Então há quase dois anos atrás eu estava treinando no Espaço Funcional da Mônica Pimenta com uma amiga e parceira de treino, professora de Educação Física, a Cristina Rey  me perguntou, Chico vamos jogar Tchoukball? E eu perguntei, o que e Tchoukball? CONTINUA….

Somos Todos BRAVUS – Blog do Chico

Como reagir a uma notícia que pode mudar de uma hora para outra seu destino e sua vida? Existem duas possibilidades: bem ou mal. A forma como vamos lidar com ela, esse sim é o ponto em questão. Lembro-me como se fosse hoje, a divulgação do diagnóstico no hospital sobre a Esclerose Múltipla. Como nada havia sido dito sobre o que estava ocorrendo comigo e eu também desconhecia informações sobre ela, apenas respondi: – Ok, vamos a cura. O que devo fazer? Na época, meu médico me olhou com surpresa e me disse que não havia cura, que existiam tratamentos e injeções para aliviarem os sintomas, mas que minha vida a partir daquele momento sofreria muitas mudanças, boa parte de minhas atividades teriam de ser reduzidas. No início, por recomendação, foi o que fiz, as reduzi. Recuando em tudo. Hoje, acho até engraçado, mas isso não durou muito. – Eu precisava trabalhar, namorar, continuar praticando esportes. Essa era minha vida e eu gostava muito dela. Então, mesmo com as recomendações e injeções, procurei ajuda e encontrei outras opiniões, não uma que me desse todas as respostas, mas a mais coerente. Nunca fiquei esperando ajuda ou soluções caírem no colo. Quando você se movimenta, algo sempre acontecerá.             Em dezembro do ano passado, em um sábado, estava treinando no Espaço Funcional, quando a Monica, dona do Espaço me perguntou: – Chico, quer ir correr a prova da Bravus amanhã? A Nani, uma das alunas, não poderá ir, e como sei que na época em que montamos o grupo você não podia comparecer, quem sabe!? – E foi assim, de última hora, uma gentileza , uma lembrança. E lá fui eu com mais 14 pessoas para a prova. No domingo, nossa largada seria às 14:10, então marcamos um ponto de encontro e logo todos estavam lá. Havia mais de 10 mil participantes, os grupos largariam por horários, fazendo com que o fluxo da prova e a desenvoltura dos outros grupos não ficassem comprometidos. Em meu deserto interior, pensei: ”De todos esses participantes, será que há mais pessoas com EM, como eu, ou com outras superações a serem conquistadas aqui?” – Eu acreditei que sim. Para quem não conhece, a Bravus é uma corrida cheia de obstáculos, que ocorre em São Paulo. Você corre, salta, pula, escala paredes, carrega objetos, enfrenta água super gelada, lama, choques, tem de tudo! A maioria forma equipes, com o objetivo de chegarmos todos juntos, ajudando e superando. Em uma das provas, o objetivo era subir uma rampa super inclinada. Como já estávamos cheios de lama, lembro de sair correndo e, quase no topo, dar um salto. Mãos vieram ao meu encontro para me puxar, nem sei o nome de quem me ajudou, mas depois, troquei de lugar com essas pessoas para ajudar outras. E assim foi… Solidariedade total até o fim. Depois de três horas, nosso grupo que continha 15 integrantes, cruzou a linha de chegada. Juntos, ninguém ficou para trás. Talvez eu não tenha demonstrado o quanto, mas me emocionei muito em estar com eles naquele momento. Iguais, sem discriminações, como infelizmente ainda vejo e ouço com relação à EM. Procurei então, um significado para tais ações e escolhi uma palavra: Bravura. Seu significado e origem: do italiano bravo, atrevido, audacioso, possivelmente do latim BRAVUS, que significa vilão, criminoso, de pravus “desonesto”. Eis uma palavra que começou com designação negativa e que acabou superando expectativas, assim como quando me disseram: RECUE. GOOD VIBES

Faça da sua vida a versão mais verdadeira – Blog do Chico

Quando criança, transformava tudo que era possível em um mundo imaginário, vivendo em um mundo real. As brincadeiras, as pessoas, os lugares… Mas, eu tinha uma, que era muito legal e engraçada. Sempre fui fã do Emerson Fittipaldi, nosso primeiro campeão mundial de fórmula 1. Quem vivesse ao meu lado naqueles anos, sabia da minha paixão por corridas e que torcia por ele todo domingo, corridas de todos os lugares do mundo, sempre me imaginando lá. Na segunda-feira, no colégio, meus coleguinhas me perguntavam se o Emerson havia vencido a corrida, e eu dizia: Sim! Era uma festa, pois ele era o meu tio famoso. Sim, eu dizia que ele era meu tio e meus pais jamais se importavam com aquela criança imaginando isso, era apenas uma fantasia. Em janeiro de 1973, fizemos uma viagem de férias para a cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Meus pais, meus avós maternos e minha tia. Emerson tinha sido campeão mundial no final de 1972 e eu estava muito feliz. O sol muito forte dos primeiros dias me fizeram ter febre. Quando voltávamos da praia, paramos no centro da cidade, eu estava com minha avó Nancy, olhando o mar, quando de repente, vi uma lancha passar. Olhei para ela e disse: Vó, é o Emerson! Ela me conta que disse para o pessoal ao lado que eu estava delirando de febre e que via o Emerson em tudo quanto era lugar. Porém, quando ela olhou, percebeu que realmente se tratava dele. E aí, foi a maior correria. Ele parou a lancha, veio correndo em nossa direção para pegar algo e pronto, passou a febre, fui correndo em sua direção, ele me abraçou e soube que era seu fã. Ainda bem que tínhamos uma câmera, tiramos muitas fotos juntos. Fiquei ali parado e pensando: “O pessoal do colégio nem vai acreditar.” O tempo passou , como a vida. Observo tudo o que acontece na minha, em todos os seus momentos e movimentos, acabo tendo muitas histórias para contar, de todos os assuntos, da vida pessoal, profissional, viagens, amores, esportes, aventuras… sejam elas boas ou difíceis. E isso, por vezes, causou-me desconforto. Uma, foi quando contei a um colega de trabalho sobre uma tentativa de assalto que sofri e como saí dela. Para a minha surpresa, em uma reunião de vendas, ele contou a todos, de forma depreciativa, denegrindo o fato e a mim. Ele era meu superior, por isso, fiquei sem graça. Minhas testemunhas daquele fato já não estavam ali para me defender. Então, o que poderia fazer? Depois que recebi o diagnóstico de EM, muitas outras histórias ocorreram, com muito mais intensidade, energia e paixão. Percebi que sou mais respeitado, ela me deixou mais forte e seguro, não me importa se acreditem ou não. Então não se preocupem, estarei sempre motivando a todos a descobrirem que não existem tantos obstáculos como imaginamos. Pacientes, ou não, da esclerose. Foi quando surgiu uma oportunidade para comprovar isso. Em 2010, tomei a iniciativa de fazer um treinamento motivacional, chamado Olho de Tigre. Em meio a todo o turbilhão de emoções, surgiu uma frase: ‘’FAÇA DA SUA VIDA A VERSÃO MAIS VERDADEIRA.’’ – Compreendi. Muitos, não conseguem entender o caminho que escolhemos para a nossa vida, pois limitam-se por algum motivo, criando regras e condenando os outros que vivem da maneira considerada ideal. Nunca me importei por qual caminho as pessoas seguem suas vidas, suas histórias, suas crenças, suas opções. Nunca julguei ou duvidei delas. Sendo verdadeiras, isso é o que sempre me cativou em ouvi-las. Se encontrei o Emerson novamente? Em setembro de 1991, indo para o aeroporto de Guarulhos, para uma viagem muito legal que faria, vi um carro preto passar pelo meu, como estava do lado do passageiro, pude observar quem estava dirigindo. Então disse: Acelera, é o Emerson! – O taxista fez uma cara de dúvida, mas fez o que sugeri. Na área de desembarque, parando atrás do carro que tinha nos ultrapassado, confirmei, era ele. Pedi ao motorista que me aguardasse e fui até ele. O cumprimentei e o abracei, como se fosse lá em Cabo Frio. Ele havia sido mais uma vez campeão mundial e também de fórmula Indy, eu estava sempre acompanhando. Falei do nosso encontro e de como era uma satisfação revê-lo. Para a minha surpresa, ele disse que se lembrava do nosso encontro nas férias, em Cabo Frio. Ele ia para o mesmo destino que eu, no mesmo avião. Voltando para o carro, para pegar minhas coisas, o motorista do táxi me perguntou: Como sabia que era ele? Eu disse: Ele é meu tio! Saí rindo. Não tenho fotos para mostrar. Mas essa, é a versão verdadeira da minha vida. Faça a sua, eu vou acreditar. GOOD VIBES

Gigante (Parte 2) – Blog do Chico

Uma voz forte e rouca gritava “Gigante” e eu de imediato respondia: “presente Sensei” (significa mestre, chamamos assim quem nos ensina artes marciais). O ano era 1973, eu morava em Curitiba e meus jovens pais, sim, nossa diferença é de apenas vinte anos, faziam os esportes que gostavam, na verdade minha mãe no jazz e meu pai era uma pessoa que praticava vários esportes. Éramos sócios de um clube no centro de Curitiba, ele existe até hoje, a famosa  Sociedade Thalia, um clube muito legal com piscina coberta, aquecida e ginásio esportivo.  E lá estava eu no judô,  com meus seis anos . Eu era o menor da turma, o Gigante. Com certeza era por esse motivo que eu tinha esse apelido, mas eu sabia no meu íntimo que não era por isso, mais tarde eu entenderia. Os meus colegas sempre tentavam me derrubar e eu por mais que tomasse um golpe sempre levantava e olhava fixamente para meu mestre. Ah, eu chamava ele de Brutus pois tinha uma barba espessa e negra  e ele me dava muitas instruções e dicas  e eu ia sempre em frente, podia cair muitas vezes e ele sempre dizia: “Gigante levanta”.  Em um dia de treinamento um garoto maior do que eu e mais forte foi ao chão com um golpe que eu tinha treinado exaustivamente para surpresa de todos, e o mestre sorriu para mim. A partir dali quem treinava comigo os golpes sabia que não ia ter alguém apenas para derrubar e sim que ia ser derrubado também. Meu pai lutava também em outro horário e eu assistia com muita atenção.  Tinha um treinamento que era de saltar e dar um giro no ar por cima de um banco caindo do outro lado no tatame. Meu mestre gritava com a voz rouca e forte: “Gigante você será o primeiro da fila”, pois ele sabia que eu não tinha medo, vi muito marmanjo desistir na hora. Eu já naquela época incentivava e dizia: “é fácil, olha só” rsrsrs. Os anos passaram e eu fui procurando outras artes marciais ou lutas, minha paixão era o boxe e o Karatê, imagina se não sou de uma geração em que se passavam filmes desse gênero, o clássico Rocky e Karatê Kid, ainda mais na década de 80. Meu pai me deu um par de luvas de boxe quando eu tinha 7 anos, mas nunca me incentivou a agredir ninguém ou mesmo aproveitar de ter alguma vantagem em uma briga e posso dizer que nessa fase não me lembro de ter nenhuma briga , além de treinar com ele era um convívio pacífico e de muito respeito, riamos muito, eu tentando acertar ele pela diferença de altura, imagina eu pulando me sentindo o Gigante. Mudamos para Santa felicidade um bairro de colonos italianos e um pouco mais afastado da cidade e lá aos 9 anos posso dizer que tive que me impor pela primeira vez. A minha chegada, ao bairro parecia que eu era um estrangeiro, um ser do outro mundo e logo no primeiro dia  um rapaz mais alto e arrogante  veio impor seu território e suas regras para mim. Lembrei me na hora dos ensinamentos do meu mestre Brutus. Olhei firme em sua direção e disse:” se vier vai pro chão”. Então para minha surpresa ele recuou. No fim ficamos bons amigos e assim seguiu a vida. Aos 14 anos já morando em outro bairro,  um amigo meu do colégio me disse:” vamos a academia do meu cunhado, ele dá aulas de Karatê “e lá fui eu conhecer. Todos de quimono e eu de agasalho rsrsrs. E assim nasceu uma grande amizade de muitos ensinamentos e desafios, o Ricardo Gonçalves meu mestre me fazia treinar logo as 6h da manhã.  Até hoje ainda me lembro de todas as passagens e treinos exaustivos, campeonatos e sempre tinha alguém maior e mais forte me desafiando e eu sempre lembrando de nunca recuar como meu primeiro mestre me ensinou, lembrava dele chamando, “Gigante”. Aos 17 anos me mudei para São Paulo e logo encontrei alguns lugares para treinar  boxe ou Karatê . Uma coisa que eu nunca me importei  foi em faixa ou ser melhor que alguém, meus mestres me ensinaram, treinei inclusive com o grande Eder Jofre, nosso eterno boxer. E o tempo passou , no final de 2002 eu encontrei uma academia muito legal de um cubano boxeador, no bairro de Campo Belo em São Paulo, sabe aquela paixão a primeira vista, um lugar que sempre imaginei, tinha tanto mulheres  como homens  ou seja da forma como sempre enxerguei, uma harmonia… continua GiGANTE PARTE 2 No ano de 2003 veio o diagnóstico da EM e eu automaticamente me ausentei de tudo e de todos, ou seja, sumi. O diagnostico não me tinha favorecido a praticar nada, apenas injeções e repousos. O cansaço vinha do nada, estafa, dores que eram aliviadas com as injeções de Avonex. O desequilíbrio muitas vezes acontecia do nada, um tropeço. Com a ajuda e incentivo do meu médico resolvi voltar aos treinos e de imediato fui a academia de boxe. E foi um desastre. No começo não queremos que as pessoas saibam que somos pacientes de Esclerose Múltipla, os olhares ou comentários não eram animadores então eu não contei o que havia acontecido comigo. Logo no primeiro treino percebi uma dificuldade em saltar de corda, não havia coordenação, o fôlego faltava, na corrida chegava em último, os golpes estavam curtos, a cabeça oscilava,  um pensamento então se fez presente era de parar e desistir. E foi assim , fui embora sem me despedir dos meus amigos, envergonhado pelo meu fracasso. Hoje reconheço que errei , mas eu não sabia lidar com aquilo, eu chorei, mas foi de raiva e naquela noite tenho certeza  que discuti com todos os deuses. Passado esse período, em busca de outros caminhos encontrei vários outros esportes, outras atividades, viagens, mas tinha ainda uma coisa a resolver. Foi quando dentro do Espaço Funcional onde treino há três … Ler mais

Sim, eu tenho Esclerose Múltipla (PARTE 2)

Durante esses anos de conhecimento e convivência inicial com a EM conheci um médico chamado Mauro Atra que me fez a acreditar que eu poderia superar, me fez acreditar naquele menino que tinha sonhos de ser astronauta de fazer um mundo melhor, que sempre sorriu e ajudou a quem precisasse sem nenhuma distinção. Então em uma conversa franca em uma noite pós-exames de ressonância magnética, pedi como um favor que ele me tirasse as injeções, elas estavam incisivas demais e não sentia naquele momento que me ajudavam como deveria, ele me pediu então que  eu me tornasse um atleta de ponta novamente como eu já tinha sido, isso seria para que quando ficasse mais velho não sentisse tanto os efeitos que a doença poderia ocasionar. Ele também me disse três coisas que nunca vou esquecer: procure um bom trabalho, que te reconheça, uma mulher para ser uma parceira de vida e o último: “mostre a todos como pode superar isso e ser feliz”. Ele também me disse: “você já foi atleta de ponta, seja um para sempre”. E ai começou uma jornada que na verdade já havia começado logo um ano depois do diagnostico em 2003, mas eu ainda não havia percebido: a busca da perfeição para o equilíbrio. A jornada foi longa até aqui, tantas tentativas foram feitas, novos empregos, novos amores, novos amigos, treinos, treinos específicos, diferentes como até em uma academia de goleiros que me ajudou em muito a manter a elasticidade e energia. Mas foi na escalada e nas altas montanhas que encontrei o verdadeiro desafio de nunca desistir, pois não importa quantos topos tenho que alcançar, o mais importante e saber descer de lá e poder contar como isso é possível, basta acreditar. Tive a honra de conhecer o Nando Bolognese que escreveu o livro “Um palhaço na boca do Vulcão” e esta com a peça em cartaz “Se fosse fácil não teria graça”. Foi por intermédio de uma amiga em comum que me pediu que fosse assistir sua peça. Ele é paciente de EM e já está com a doença em estágio mais avançado. Em toda a peça chorei e ri, os seus relatos foram tão próximos ao que passei, que me vi ali naquela situação, não senti pena de mim, alias nunca senti, mas senti uma tristeza misturada com alegria. Quando fui pegar seu autógrafo e me apresentei e explicando porque estava lá, ele se surpreendeu com a minha forma física, me abraçou e disse com um sorriso e uma simplicidade única que me comoveu: “Chico conte sua história para as pessoas, traga a sua montanha para eles, faça eles acreditarem”. E sai de lá com essa promessa. Então nesses anos todos, fui andando por aí e nunca mais parei , treino em academia de goleiros, dou treinamento inicial de escalada a quem quiser aprender as suas primeiras subidas, escalo em rochas e em altas montanhas (minha paixão), faço parte de comissões e treinamentos para atletas especiais, crianças, amadores e pessoas que querem se tornar atletas, prático funcional, tenho vários certificados de treinamentos internacionais, curso de resgate em áreas remotas, treinamento de arte marcial russa, faço parte da seleção brasileira de Tchoukball, fiz curso e prático treinamento de Kettlebell, pratico todos os esportes de aventura que possam imaginar, seja na terra, na água ou no ar, prático a dança como arte do movimento, ela ajuda a superar nossas supostas limitações que nós mesmos criamos. Faço cursos motivacionais, para melhorar entender a consciência humana e tratar todos iguais como assim tem que ser. Esse ano, passei em Educação Física e estou aprendendo a tocar bateria. Ah, também trabalho com representação comercial! Bom, e a EM? Sim, ela existe e às vezes ela dá sinal sim, às vezes o braço esquerdo ainda acorda sem reação, a fadiga vem, as dores incomodam de manhã, mas é com ela que convivo e supero todas as vezes que vem uma crise. Quando criei a Moves and Vibes foi com o objetivo de aceitar qualquer pessoa, seja ela com a EM ou não e hoje tenho algumas pessoas envolvidas com ela treinando e se superando, pois foi no esporte que encontrei um caminho. Posso assim contribuir, dividir e dar continuidade para as pessoas que tem essa doença silenciosa, que ainda causa espanto quando subo uma parede ou salto e digo que a tenho, é muito engraçado. Sabem por que de tudo isso? Em 2003, quando eu estava a noite em meu quarto dentro do hospital, pensando o que seria dali para frente, o telefone do quarto tocou.  Era uma pessoa que  falava em nome dos pacientes de Esclerose Múltipla. Ele me explicou que não podia dizer seu nome, me disse que era apenas um relojoeiro. Escutei tantas coisas boas em um silêncio absoluto, que aquilo não era o fim e sim o começo de uma nova etapa da vida, me disse também que estava ligando em nome da ABEM, que era uma corrente para dar esperança a quem fosse diagnosticado. Eu agradeci e disse um dia vou retribuir em mil vezes o que está fazendo por mim nessa noite e ele respondeu: “tenho certeza”. Ele acertou. GOOD VIBES!!   Francisco Roberto Loria Filho               Meu nome é Francisco Roberto Loria Filho, mas podem me chamar de Chico, Chicão ou Fran, foram esses os apelidos que fui ganhando pela vida. Tenho 49 anos é sou paciente de esclerose múltipla há 13 anos.  Pratico muitos esportes,  principalmente os de aventura sendo a Escalada e o Montanhismo o mais merecedor  do meu amor e da minha dedicação,  que me fez superar muitos desafios, a ter inúmeras conquistas. A esclerose múltipla  me ajudou a criar  a Moves and  Vibes  que tem como missão levar a todos  conhecerem seus melhores movimentos e ações, sejam eles  pelo esporte, pela dança, pela música ou qualquer outra atividade que inspire. Fiz faculdade de direito e trabalho em área comercial. Atualmente faço uma nova faculdade, de Educação Física para ampliar meus … Ler mais

Sim, eu tenho Esclerose Múltipla (PARTE 1) – Blog do Chico

Posso contar o antes, como uma vida normal, com sentimentos normais, mas alguma coisa sempre me dizia que um dia poderia mostrar mais alguma coisa ao mundo, um legado. Não sabia demonstrar como, pois meus desafios até então eram considerados de uma vida padrão pelo que fazia, era gerente comercial de uma empresa, tinha uma namorada bonita, viajava a trabalho, jogava futebol, fazia esportes em geral. Foi então que depois de passar um ano gerenciando uma filial da empresa em Curitiba na qual trabalhava por muitos anos e me dedicava inteiramente, fui jogado realmente ao desafio da minha vida que culminaram aos fatos que aconteceram depois. Fui obrigado a retornar para São Paulo após uma traição profissional, meu pai havia operado o coração na época em Curitiba e me lembro até hoje como foi difícil, dos comentários muito degradantes de um ex-parceiro de trabalho. Quando retornei a São Paulo, o meu avô que era um ídolo para mim morreu em uma operação, meu namoro de algum tempo já estava diferente, existiam motivos até então obscuros que me foram revelados após anos.  Então voltei ao meu emprego em São Paulo sem nenhum questionamento, talvez apenas pelo meu passado produtivo, ou seja, um caos. O primeiro sintoma então começou nessa fase, em um jogo de futebol. Jogava pela seleção da empresa e quando fui bater um tiro de meta, minha perna retraiu e senti uma fadiga enorme. Sempre joguei bem, mas não entendia aquela fraqueza e aí começaram as formigações do lado esquerdo, sem parar. Fazia shiatzu e nada, frequentava o consultório do Dr Osmar de Oliveira e um médico da sua equipe achou que era nervo pinçado e me recomendou injeções. Um dia de domingo após duas semanas do início e alguns tropeços, decidi e fui ao hospital. Graças a intervenção de um médico geral no hospital São Luís da Santo Amaro, fiz um teste de equilíbrio. Ele ficou assustado com o que viu e me disse: “daqui você não sai até descobrirmos o que acontece com você”. E por lá fiquei. Foram longos 17 dias sem saber o que aconteceria. Fiquei no andar que dava acesso ao berçário e em meus passeios matinais tentava acertar os nomes dos recém-nascidos, vi também pessoas fazerem sua passagem. O que me chamou atenção nesse período que passei no hospital é que vemos os verdadeiros amigos que aparecem de onde menos eu podia esperar. Indo ao hospital, família reunida ou ao contrário, pessoas que eu acreditava serem parceiras dizendo que eu não mais serviria para nada, nem para ter um filho, amigos que até então acreditava nem telefonaram, um medico me dizendo que minha vida não poderia ser mais a mesma em todos os sentidos e uma cadeira de rodas poderia vir a ser uma realidade em anos. Eu chamo essa fase de “triagem” com muito bom humor. Eu tinha apenas 35 anos e tinha outros planos.  Então após o diagnóstico recebi alta e assim começaram as injeções de interferon (avonex) uma por semana, mas eu não conseguia aceitar que ia acabar assim. Recebi uma grande ajuda de meus tios que me receberam muito bem na casa deles por um mês me dando dignidade e então procurei outro médico por recomendação de meu primo um médico cardiologista, que me disse em sua consulta: “viva, você vai superar, mas não me cortou as injeções. Sentia uma melhora mas toda semana tomando os medicamentos, era pesado. Senti na pele todas as possíveis reações do ser humano convicto que somos aberrações, quando ficamos doentes e temos um diagnóstico de Esclerose múltipla. Meu gerente nessa época que até então tinha ajudado por anos em trabalhos com muito bom humor, pediu para me mandar embora pois eu estava doente e acreditava que eu não renderia, mas houveram  pessoas a meu favor. Na verdade, no fim daquele ano eu mesmo pedi demissão, pois sabia que ali meu tempo havia se acabado, deveria ter feito isso com todo o resto, mas acredito que tudo tem seu tempo, como se provou no futuro. Eu tenho plena convicção de que todos os movimentos sejam eles bons ou ruins irão nos revelar em um breve futuro, o caminho a seguir e os motivos que nos levaram a isso… GOOD VIBES! CONTINUA…   Francisco Roberto Loria Filho               Meu nome é Francisco Roberto Loria Filho, mas podem me chamar de Chico, Chicão ou Fran, foram esses os apelidos que fui ganhando pela vida. Tenho 49 anos é sou paciente de esclerose múltipla há 13 anos.  Pratico muitos esportes,  principalmente os de aventura sendo a Escalada e o Montanhismo o mais merecedor  do meu amor e da minha dedicação,  que me fez superar muitos desafios, a ter inúmeras conquistas. A esclerose múltipla  me ajudou a criar  a Moves and  Vibes  que tem como missão levar a todos  conhecerem seus melhores movimentos e ações, sejam eles  pelo esporte, pela dança, pela música ou qualquer outra atividade que inspire. Fiz faculdade de direito e trabalho em área comercial. Atualmente faço uma nova faculdade, de Educação Física para ampliar meus conhecimentos em treinamentos. Sou um viajante de desertos sempre em busca de conhecer outros viajantes, que meus textos e histórias tragam a vocês,  a coragem e energia para atravessá-los , pois todas as coisas estão a caminho de algum lugar.  Sejam bem vindos. GOOD VIBES.

Novo blogueiro da Abem – Blog do Chico

Meu nome é Francisco Roberto Loria Filho, mas podem me chamar de Chico, Chicão ou Fran, foram esses os apelidos que fui ganhando pela vida. Tenho 49 anos é sou paciente de esclerose múltipla há 13 anos.  Pratico muitos esportes,  principalmente os de aventura sendo a Escalada e o Montanhismo o mais merecedor  do meu amor e da minha dedicação,  que me fez superar muitos desafios, a ter inúmeras conquistas. A esclerose múltipla  me ajudou a criar  a Moves and  Vibes  que tem como missão levar a todos  conhecerem seus melhores movimentos e ações, sejam eles  pelo esporte, pela dança, pela música ou qualquer outra atividade que inspire. Fiz faculdade de direito e trabalho em área comercial. Atualmente faço uma nova faculdade, de Educação Física para ampliar meus conhecimentos em treinamentos. Sou um viajante de desertos sempre em busca de conhecer outros viajantes, que meus textos e histórias tragam a vocês,  a coragem e energia para atravessá-los , pois todas as coisas estão a caminho de algum lugar.  Sejam bem vindos. GOOD VIBES.