ASSISTÊNCIA

Pense comigo, reflita por um momento, respire e dentro dos seus momentos mais íntimos, em qual momento da sua vida você prestou assistência ou precisou que algo ou de alguém que lhe desse ela? Significado de assistência: Em todos os seus usos, que são vários, este verbo se origina no Latim ADSISTERE ou ASSISTERE, “estar junto,  auxiliar”, formado de AD, “a”, mais SISTERE, “fazer ficar de pé”, relacionado a STARE, “estar”. A cada dia que vivo procuro por sinais, que me fazem ser grato por qualquer assistência que eu receba, sejam as mais simples, como agradecer  por uma  simples informação ou palavras agradáveis de incentivo, uma simples gentileza de alguém oferecendo passagem, um sorriso, uma lembrança ou as mais complexas que exigem trabalho, desenvolvimento pessoal e espiritual, seja qual a sua crença ou religião, respeito todas. Seja essa ajuda tangível ou intangível, o que me importa e sentir que naquele momento algo aconteceu e transformou nem que fosse por um minuto, minha vida melhor. Muitos me perguntam de onde vem tanta energia para combater a Esclerose Múltipla. Reflito que cada ano que consigo me manter de pé e saudável, eu recebi a maior e melhor força para continuar, sejam às vezes em apenas pensamentos quando alguma dor se instala que me lembro de tudo que posso ter. Mas acho que para mim, o mais importante e dar a assistência, sem nem pensar em alguma troca. Não vou dizer que foi um fácil aprendizado, por muitas vezes cobrei a igualdade em dar e receber, mas com o passar dos anos, e com o diagnóstico, aprendi a receber a assistência que tanto precisava naquele momento e fiz dela a maior força para ser o que sou hoje e dar assistência a quem mais precisa. Um ano antes da EM se manifestar, eu estava gerenciando uma empresa em Curitiba e tinha um dia da semana que ficava em um cruzamento das ruas Engenheiro Rebouças com a João Negrão, todo começo da noite estacionava meu carro no recuo e junto com alguns voluntários, meu pai e amigos distribuíamos sopas para os catadores de papel que faziam essa rota com seus carrinhos e também vinham famílias e muitas crianças. Como coordenador dessa ação era o Amadeu, do centro espírita Bezerra de Menezes ele parava seu Del Rey azul, e ali com caixas de isopor no teto e ficávamos na rua, entregando sopas e pães e o que mais pudéssemos contribuir. Eu tenho histórias maravilhosas que um dia contarei detalhadamente, mas uma realmente carrego comigo. Foi no natal de 2002 e dessa foto que vocês estão vendo com o texto, foi um dia emocionante, pois muitas crianças não sorriam no começo e depois de meses, já vinham sorrindo para nos encontrar. A menina que está na foto era neta do Amadeu e queria estar ali com a gente, ajudando em tudo. Lembro-me de todos esses meninos, mas o que mais me marcou foi o Renato de camiseta amarela e boné, ele nunca sorria e com o tempo ele sempre pegava a sopa comigo e esboçava um sorriso. Me contou sua história, a perda do pai pela violência, a ajuda para a mãe e irmãos menores e seu sonho de ser jogador de futebol(batemos algumas vezes bola ali mesmo e não é que ele tinha jeito),  ele estudava de manhã e isso era muito bom, suas notas eram excelentes, ele me sempre me mostrava o boletim  e nesse natal eu dei de presente para ele uma chuteira, foi quando para minha surpresa ele me abraçou forte e com lágrimas nos olhos e me disse, obrigado, não só pela chuteira, mas por ser meu amigo, foi daí que nasceu uma frase que digo até hoje: – obrigado você por me manter vivo, e depois rimos muito. Ele me deu para sempre a Assistência que eu precisava. O Amadeu ao ver essa cena, me abraçou e eu já com lágrimas vendo os carrinhos indo embora, me disse: – use este dom que Deus lhe deu para ajudar a fazer um mundo melhor, ajudar é algo natural para você. Tive que voltar para São Paulo no ano seguinte, e soube pelo meu pai que o Amadeu havia falecido de leucemia, ele já estava com a doença mas nunca havia nos contado, acredito que com esse trabalho que fizemos ambos estávamos dando assistência um ao outro. Então Assistência é algo natural para qualquer pessoa, use seu amor, sua inteligência e sua fé para melhorar a vida das outras pessoas. Seja realmente uma luz para os outros nos tempos sombrios, pois alguém também será para você, simples assim. GOOD VIBES  

GOLEIROS – Alguém tem que defender – parte 2

Chegando a São Paulo, já havia jogo no domingo. Alias, explico melhor. Todas as minhas vindas a São Paulo, meu avô Roberto e meu primo Luiz, sempre me levavam para jogar em algum lugar ou íamos a algum estádio ver jogos. Como era bom assistir aos jogos, torcidas saindo juntas, assistindo jogos ao lado de amigos. Tive contato com muitos jogadores e ex-jogadores de futebol, algumas partidas juntos, lembranças que nunca se apagarão. Meu avo jogava em um time de domingo e por várias vezes íamos juntos, ele foi avô muito cedo e isso contribui por jogarmos juntos, e assim foi até os seus 79 anos, acreditem.  Já sabendo que não iria ser mais profissional, me divertia, mas mantinha meus ensinamentos, então em  alguns campeonatos de festivais tive o privilégio de se sagrar campeão. Um dia meu primo, o Luiz me disse; “Vamos até o Santa Marina, um time de fábrica, que tinha um campo e um pequeno estádio, jogar e ver se aprovam a gente?” Eu topei estava com 18 anos, o ano de 1985. ele também teria sido um excelente profissional era rápido  e tinha muita categoria, como também contavam de meu avô, mas os nossos destinos foram para jogar na várzea paulistana. Fomos aprovados, e jogamos lá por dois anos, fiz dois amigos, O João  e o Marcelo, éramos como irmãos no campo.  Eles eram primos, um lateral direito e outro centroavante. Estávamos ganhando vários jogos e um campeonato que existia, mas em um final de semana eles tiveram que fazer uma viagem a Campo Grande/MS é um acidente fatal acabou levando meus amigos, soube da notícia no sábado seguinte, aquela época a comunicação era diferente. Lembro até hoje no vestiário, como eu chorei. Até que meu treinador o Adilson me entregou a camisa do time que era Azul é disse, jogue por eles.  E foi assim, ficamos invictos por um ano.  Eu vibrava a cada vitória e jogo, quando jogávamos fora  o ônibus que nos levava de volta, cheio de alegria e eu lá pensando meus amigos estão felizes também.  Essa conexão existia  pois dávamos muita força quando estávamos em dificuldade no jogo e sempre riamos muito. Até dos erros. Os anos passaram, os times mudaram, jogadores diferentes, vitórias, empates e derrotas.  Tive um breve retorno a Curitiba por um ano, trabalhando por uma empresa, joguei em um time que meu ex-treinador tinha montado, morei do lado do estádio do Atlético paranaense, ia assistir aos jogos, foi um ano de aprendizado, mas retornei a São Paulo. No time da empresa a Giroflex tinha um time que jogava amistosos e lá fui eu. O ano era 2003, meu avô havia falecido, foi um ano complicado em todos os sentidos, na minha vida pessoal e profissional. Então em um sábado, em um jogo da empresa contra um time famoso da várzea, fui dar um chute na bola, depois de uma defesa e ela foi para trás, senti uma fadiga enorme, um cansaço. Começou ao final do jogo um formigamento na ponta do dedo, estendeu na semana ao braço esquerdo e perna, depois ao pé direito. Fui a ortopedistas, injeções, nervo pinçado. Nada disso, depois de 17 dias no Hospital São Luiz o diagnostico: ESCLEROSE MULTIPLA. Vieram então as proibições, cuidados e tudo o que possam imaginar. Depois de quatro meses e aqueles corticoides fazendo efeitos, decidi com a ajuda de meu médico a voltar a praticar esportes e jogar futebol. E meu primo novamente me levou a um time chamado 7 de Setembro da freguesia do ò e por lá joguei , até uma copa chamada Kaiser, famosa aqui em São Paulo. Mas sentia que oscilava muito. Então resolvi sair de cena. Pensei é o avanço da doença. Mas nunca desisti, comecei outros esportes, movimentar o corpo e aí o destino bateu a minha porta. Vi uma reportagem do Ex Goleiro Zetti, que ele tinha montado uma academia de goleiros, chamada Fechando o Gol.  Que fica no clube Banespa, aqui na zona sul de São Paulo e já no outro dia, me inscrevi e comecei a treinar, só depois de alguns meses é que disse ser portador da EM.  Lá eu conheci vários treinadores; o Felipe,  Tales,  Júlia,  Roberto, Jefferson ,  Wellington e o Renan (que escreveu um belo livro de treinamentos de goleiros). Meus amigos, goleiros para sempre, Bunyu, Zé, Gerson, Rodrigo, Nyldo, Evander, Luís Bianconi, Arnaldo, Valdir, Bruno Sato, Raphael, Nicholas, Edu, Vagner, Eudes, Caio, Danilo, Marcel e tantos outros. Lá tive apoio, voltei a ter agilidade, força, concentração, disciplina, fizesse sol ou chuva lá estávamos todos juntos treinando, se aperfeiçoando. Lembro-me de um treino com o Tales ele jogava a bola na parede e o objetivo era a deixar quicar no chão apenas uma vez, eu estava treinando com garotos de no máximo 17 anos, dei uma corrida daquelas e peguei a bola, fui cumprimentado por todos, ou seja, eu estava de volta, eles nem imaginam o quanto essa época treinando com eles significou para mim. Decidi ir para outros esportes, pois precisa ir para as montanhas, mas sem eles nada disso teria acontecido. Fui visita-los há dois meses atrás, fiz um treino e quem sabe logo estarei lá de novo, treinando com amigos. Quando escolhi ser goleiro, sabia que ia estar em constante desafio. Que seria a antítese do jogo, ou seja, defender o maior prazer de uma multidão que é gritar, gol. Defender um time, um causa, não podendo errar passar às vezes fazendo defesas o jogo inteiro e tomar um gol no último minuto ou por uma pequena falha ser julgado.  Ser goleiro é aprender a ser solitário, mas convicto que seus amigos estão ali para apoia-lo, ser bravo, corajoso, autossuficiente, saber saltar, cair, ter velocidade, flexibilidade, presença, coordenação, resistência, firmeza, capacidade de atenção múltipla, força de vontade, inteligência e tantas outras qualidades. Então  me lembrei que não foi apenas uma escolha no meu primeiro treino na tarde fria de Curitiba, quando o meu treinador Zezinho perguntou em qual posição eu … Ler mais

GOLEIROS, porque alguém tem que defender– PARTE 1

Era para ser como um domingo qualquer. Eu tinha acabado de jogar uma partida de tênis com meu pai no clube que frequentávamos o Santa Monica. A diferença de idade entre nós de apenas 20 anos nos permitiu estar sempre praticando alguns esportes juntos. Curitiba tem um clima muito maluco, me lembro de estar calor, mas o horário da tarde sempre da aquela esfriada, o vento que bate no rosto como eu sempre digo. Voltando para a sede do clube, encontramos com um amigo do meu pai que me perguntou: você joga futebol?  Eu disse sim, ele então me disse do time de futebol do clube e me convidou para ir, e nos encaminhamos para os campos de futebol. Chegando lá vi vários garotos já no aquecimento e batendo bola. Era um campo enorme de areia. O treinador era já um conhecido, era um ex-jogador do Atlético paranaense o Zezinho. Imagina a cena, eu uniformizado de tenista e fui até lá. Ele não me reconheceu no começo e perguntou você jogar em qual posição, eu disse: Goleiro. Foi meio que no instinto. Quando cheguei vi outro goleiro que era filho de uns amigos de meus pais e não vi outro. Eu jogava bem na linha sou canhoto o que era raro na época, mas já tinha jogado no gol algumas vezes e me saído bem. Acho que na hora pensei bom no gol eu jogo e posso ajudar. Primeiro tempo do treino, levei dois gols e um olhar do treinador de reprovação, ele me disse anos mais tarde, você de jogador de tênis, o que eu poderia imaginar, goleiro que não ia ser, rsrsrsrs. No intervalo desci até o vestiário do clube. Eu tinha um armário o 617, entrei nervoso e Zeca, que era o senhor que cuidava do vestiário e sempre me viu sorrindo foi atrás de mim e perguntou o que tinha acontecido. Contei e ao abrir meu armário, encontrei ali o meu talismã; uma camisa de goleiro azul da Adidas. Eu tinha ganhado do meu avô quando estive em São Paulo nas férias. Não sei por que, mas ela estava lá esquecida em algum fim de semana, deixei lá sem motivo algum. Meus olhos brilharam  e eu a coloquei como se fosse uma armadura, quando de repente o Zeca me entregou um calção e um meião da escola de futebol e disse, vai lá garoto, pega tudo. Voltando para o treino, tinha uma subida íngreme de grama que para aquele garoto de quase 15 anos era uma montanha. Quando cheguei, senti olhares de provocação, mas não me intimidei, começou o segundo tempo. E como se fosse hoje me lembro do Carioca, um dos melhores jogadores dar um chute no ângulo e a bola desviou em um garoto, mudando a trajetória, virei o corpo no ar e saltei na bola desviando para escanteio, eu só ouvi já na areia o carioca dizer, que defesa. E a bola por ali não mais passou. Tentaram, mas foi uma defesa atrás da outra e o meu time que era o dos reservas foi pra cima e empatou o jogo treino. Comemoramos como se fosse final de campeonato. No final agradeci e quando estava indo embora, o Zezinho que treinava esse time me chamou e me convidou para treinar. Voltando ao vestiário, entreguei a roupa que usei ao Zeca sorrindo e ele disse, os meninos que chegaram antes disseram que teve um cara novo no treino que pegou tudo e sorriu, eu agradeci timidamente e ele me disse, eu sabia, você tem alma de guerreiro, guri. Guri e garoto no sul.  E assim começou uma das histórias mais bonitas da minha vida. Treinava o fim de semana inteiro com o Zezinho, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, aprendi táticas, a aguentar provocações, posicionamentos, coragem, determinação, a nunca desistir, senti dor, senti alegria, senti vida. E aquele time foi pegando corpo e força. Fomos tetra campeões inter clubes no Paraná, jogos memoráveis, decisões por pênaltis, uma união que vi poucas vezes na minha vida, nunca brigamos entre nós, não perdemos um campeonato sequer que participamos. O  Zeca do vestiário, que também era nosso roupeiro e nos acompanhava nos jogos, em dois anos de nosso time, sempre me entregava separado dos outros a minha camisa e meu uniforme do time que também era azul, e dizia, pega tudo, sempre incentivando.  Alguns de nós, mais tarde, fomos convidados a treinar em times profissionais em suas categorias de base, O Zé e o Glauco foram para Santa Catarina, eu fui para o Atlético paranaense treinei e joguei por lá um ano nos juvenis, o Paulo Rink virou profissional no mesmo Atlético, até na seleção da Alemanha ele jogou, outros foram para times de Curitiba.  Mas o meu destino foi outro e me mudei para São Paulo com 17 anos, e aí outra história de goleiros começou e como a EM fez parte dela. Continua…  – Good Vibes

MEIO SÉCULO

Nasci no dia das mães. Disseram que era uma noite muita fria. Foi no dia 14 de maio de 1967, na cidade de Curitiba. Há exatos 50 anos. Mesmo nascendo em Curitiba, fui registrado na cidade de São Paulo, ou seja, tenho dupla cidadania, é uma brincadeira que falo quando conto essa história, meus pais e minha irmã com sua família vivem lá até hoje, eu que resolvi ficar na estrada entre essas duas cidades que aprendi a viver, gostar e amar. Cada uma com suas histórias, cada uma com seus momentos, mas incrivelmente interligadas na minha vida. Existe uma rodovia muito famosa que liga essas duas cidades, a BR 116.  E desde meu nascimento fui vendo as coisas acontecendo por essa estrada. Era uma constante vir a São Paulo visitar nossa família, pois estávamos apenas nós lá, então feriados ou datas festivas estávamos indo a São Paulo ou vice versa. Então eu tinha esses dois mundos em meu pequeno mundo quando criança, depois adolescência. Sempre me lembro de alguns pontos fixos, uma casa, uma montanha, um rio, ou até mesmo as cidades que estão no meio do caminho. Quando criança na época de natal eu tinha um acordo com meus pais de distribuir meus brinquedos e roupas que já não mais me serviam, mas todos em bom estado e quase novos para as crianças que viviam em casas bem modestas que ficavam próximos à estrada. Na ida entregava pessoalmente as crianças era muito bom fazer isso e quando retornávamos quando não foi minha alegria um dia vê-las usando as roupas que doei e brincando com os brinquedos, eu pulava de alegria dentro do carro. Existe um ponto que sempre me chamava muita atenção e olho até hoje. São algumas formações rochosas que parecem uma pessoa deitada, meu pai sempre me dizia desde pequeno que era um gigante dormindo e ele está lá até hoje dormindo. E assim por anos fui vendo a estrada como um sinal dos tempos na minha vida. De ônibus sozinho a primeira vez, indo de avião quando a rota passava por cima dela, muitas vezes procurava e encontrava-a lá embaixo com suas curvas e retas. Mas é quando eu vou de carro e que vejo como o tempo pode nos dar as respostas que procuramos ou sentimos. Perdi as contas de quantas vezes fui e voltei. Algumas vezes acompanhado, mas em muitas outras sozinho, às vezes a noite, outras de dia, às vezes com mais pressa de chegar outras nem tanto. E fui vendo suas transformações. Alguns pontos de referência tinham mudado ou acabado, alguns novos surgiram no lugar ou novos locais viraram novas referências. Quando comecei a dirigir por ela, a estrada não era muito duplicada o que requeria muita atenção, mas com o passar das décadas vi a sua evolução, hoje existe apenas um pequeno trecho para estar pronta e mais segura para viajar. E nesses anos todos sempre vi placas de sinalização dizendo, “EM OBRAS”, cuidado. Vi acidentes ajudei pessoas, mas também tive muitas histórias legais. E daí que faço a comparação nesse meio século da minha vida. No começo de nossa viagem sempre estamos acompanhados e tudo o que vemos sempre nos dá bons motivos para seguir em frente, tudo é novidade. Com o passar do tempo começamos a ter pressa em chegar ao fim da viagem para aproveitar o máximo o que está para ainda acontecer, não nos preocupando com os detalhes, pois alguns nos parecem ser iguais, parecem repetitivos, mas engana-se quem pensa assim, somos jovens nesse período e queremos apenas mais e mais. E com o tempo, vamos com mais calma, com mais cuidado, pois sabemos que vamos chegar ao destino final. Mas sabemos nesse período alguns atalhos que levamos o mesmo tempo para chegar. Lembro bem da minha primeira viagem depois do diagnóstico da EM. Foi uma viagem solitária, parei nos lugares que eu mais gostava, observei tudo a minha volta, as pessoas, os carros e caminhões que cruzavam meu caminho. Cada detalhe. Vi o gigante ainda deitado, mas com a sensação de estar me olhando e dizendo:- que bom que voltou. Emocionei-me quando cheguei ao meu destino, à cidade aonde nasci, pois tinha conseguido vencer o preconceito e a barreira que havia sido imposta pelas dificuldades que me contaram que existiriam, parti e ignorei isso, fui em frente, sabia que conseguiria. A minha vida então como a estrada que me guiou até hoje se duplicou com meu passado e o futuro que está por vir. Esse ano quem pegou a estrada e veio comemorar meu aniversário em São Paulo foi minha mãe. Ela quem me carregou no colo em minha primeira viagem.  E assim comemoramos  esse meio século de viagens, de idas e vindas, aproveitando os momentos em  que o tempo se detém para  dizer, boa viagem, volte logo, até breve, saudades, cheguei. Uma jornada para sempre. GOOD VIBES.

PEQUENOS MOVIMENTOS

Nossos primeiros passos. Quando aprendemos a andar, sempre tem alguém por trás de nossos movimentos ainda cambaleantes, mas com um sorriso no rosto, existe sempre alguém do outro lado esperando para pegar você. Lembro sempre com alegria de ver minha irmã dar seus primeiros passos e foi comigo na casa de uns amigos de meus pais. Nunca me esqueci daquela cena. Eu tinha apenas 9 anos mas sabia como aquele momento seria muito importante para ela, ela ria muito, mesmo com receio. Apesar de sempre conviver em grandes metrópoles, viajar para vários lugares, ver o mundo por ai;  grandes aventuras, grandes travessias e altas montanhas sempre prestei atenção em movimentos únicos e naqueles menores, quando focamos para uma determinada situação, algum objeto, uma conversa ou um olhar apenas. Mesmo que nunca mais seja visto, um nascer do sol ou um céu estrelado tocando o vazio. A partir desse movimento é que percebo como será a história daquele momento. Aonde meu espírito correrá para mais além ou apenas ficará preso naquele instante, se ele será compartilhado para o mundo, apenas com uma pessoa ou simplesmente meu e intransferível. Um pequeno movimento pode mudar toda uma história ou simplesmente deixa-la como imaginou. Podemos agir antes da hora ou deixar que uma oportunidade passe. Quando andamos devagar notamos a firmeza de nossos passos, sabemos que nesses pequenos movimentos estamos tomando decisões importantes. E tem uma passagem minha que compartilho com vocês sobre a EM. Logo após o diagnóstico, precisei aprender novamente alguns movimentos e voltar a conviver com situações que tinha todos os dias, antes do surto que me levou a ficar alguns dias no hospital. Quando passei pela porta do hospital e recebi alta, senti o calor do sol bater em meu rosto. Voltei meu olhar para a porta e me despedi com um aceno e um sorriso de obrigado ao pessoal que cuidou de mim que foi até a porta. Meus passos até o carro foram firmes, era uma distância pequena, mas eu estava feliz em estar ali. Depois foi dirigir novamente, ir ao trabalho, voltar aos amigos, a uma rotina normal. Mas meu mundo estava diferente. Tudo estava sendo feito como se fosse à primeira vez. Eu que já prestava atenção em tudo, acabei percebendo que tudo ficou mais perceptível, todo pequeno movimento era na verdade maior do que podia imaginar. Meu braço direito que havia perdido a força totalmente, já conseguia segurar uma caneta e poder escrever, dar um nó em uma gravata para ir trabalhar, minhas pernas que ficaram fracas, estavam mais fortes, enraizadas na minha alma, meu olhar para o mundo se tornou muito mais humano e compreensível. Então nesses anos que se passaram até os dias de hoje, uma escalada que eu faça um passo de dança, um arremesso em um jogo, um trabalho, um pensamento, uma conversa, uma atitude, um olhar, sempre começa com um pequeno movimento, um pensamento simples, mas que vai me levar sempre a encontrar forças para sair de uma situação desfavorável ou a me levar a novos desafios. Como nos primeiros passos da minha irmã, sei que lá na frente sempre vai estar alguém que eu possa confiar ou ajudar, pois meus pequenos movimentos me fazem despertar para um movimento ainda maior continuando e procurando um sentido para tudo. Você já fez o seu? Pense nisso porque sei que dentro de você, coragem nunca faltará você já fez isso um dia, já soube dar os primeiros passos, continue, acredite. GOOD VIBES

SOZINHO

SOZINHO? Nunca. Pense agora mesmo em algum lugar que gostaria de estar ou conhecer, mesmo que levasse algum tempo para conseguir ir. Pense em algum desejo de aprender alguma coisa nova ou algum desejo que por anos está dentro de você e por algum motivo ou por alguma escolha em sua vida, teve que abortar ou simplesmente esquecer que ele existiu. Sim estou falando daquele momento que você disse paciência, agora já foi. Imagine agora mesmo, que você tivesse uma nova oportunidade de fazer com que ele acontecesse. O mundo dá voltas. E como se de repente você estivesse de novo na mesma encruzilhada que um dia o fez meditar, pensar se seguiria em frente ou não, ouviu uma opinião contrária a sua e concordou em não fazer, simplesmente porque não tinha certeza se estava certo do que desejava. Você quando imaginou, tudo isso, estava sozinho em seus pensamentos, se agiria ou apenas deixaria que o Universo atuasse em seu devido momento. Não existe nada de errado em de certa forma sacrificar tais vontades ou desejos por uma situação maior quE apareceu, seja ela por amor, pela sua família, por um amigo, por um trabalho, por medo, por segurança. Essa apenas foi a opção que fez e por consequência outros caminhos e outras vertentes surgiram. Mas, quero que pense comigo. Quando você vai se permitir dar essa oportunidade e fazer o melhor que escolheu para si? Você cresceu e amadureceu, passou por limites ou situações que jamais teria escolhido, mas fez.  Injusto ou não, existe sim um momento só seu, que merece apenas o seu respeito. Sempre pensei comigo: aquilo que eu não fizer, não será feito e geralmente estou sozinho nessas decisões e nesse momento que consigo decidir as melhores situações que estão por vir. Tive que tomar uma decisão muito importante algum tempo depois do diagnóstico da Esclerose Múltipla. Procurei um equilíbrio entre a solidão e a dependência. Sim ouvi algumas opiniões, muitas a favor ou contrárias ao que pensava e desejava. Mas foi sozinho, sentado em uma praça, cercado por pessoas que passavam por mim sem ao menos prestar atenção que eu estava por lá que resolvi seguir em frente e fazer o que tinha deixado em algum lugar, dentro de uma caixa ou em algum momento da minha vida. Levantei e não olhei mais para trás, esperando uma resposta. Existe um texto de um livro do Paulo Coelho chamado Manual do Guerreiro da Luz que ele transcreveu das publicações de Maktub(é uma palavra em árabe que significa já estava escrito ou tinha que acontecer) que diz: – Já passei por isso, ele reclama com seu coração. O coração então responde: – Realmente você já passou. Mas nunca ultrapassou. Eu li esse texto há exatos vinte anos atrás e ele me fez acreditar sempre em ultrapassar todos os desafios que encontrei ou encontrarei. SOZINHO? Não, eu não estava sozinho. Eu estava comigo e com minha intuição, com o melhor que existe dentro do meu coração, respeitando os limites das pessoas que cruzam meu caminho,  sempre alimentando seus sonhos e desejos. Simples assim. GOOD VIBES

RAÍZES

Subir em uma árvore, quando criança era uma das minhas especialidades e fascínio. Tive muitas oportunidades nesse período da minha vida. Morei em uma casa em Santa Felicidade, um bairro típico de Curitiba, da qual tínhamos três delas; dois pessegueiros e uma Figueira, a minha predileta. Era a mais difícil de escalar, mas a que tinha figos enormes e tinha sua recompensa. Ficar ali por aqueles momentos, sentindo o vento, as folhas se movimentando. Mas sempre olhava a base daquela arvore. Para minhas pequenas mãos, eu não conseguia abraça-la toda e como era forte o seu tronco, mas o mais incrível e que em suas formas eu conseguia saltar e ir até o mais alto que me permitia. Não sei se já perceberam, mas os maiores frutos ou os mais saborosos parecem sempre estar no alto. Teve uma viagem que fizemos ao Nordeste na minha adolescência, aonde aprendi a subir em coqueiros bem altos ( a primeira vez foi um desastre) rs, mas era a maior festa quando voltava com os côcos para o ônibus que viajávamos, mas o que me impressionava era a altura e a estrutura firme deles  que me davam a segurança para escalar. E nesses anos  que se passaram, quando eu tive a oportunidade eu subia em alguma árvore que me sustentava em suas raízes, muitas vezes ficar ali parado no topo  como fazia ainda muito jovem, interagindo com a natureza, escutando o som e sentindo o movimento que nos proporciona, como se fosse um abraço, paz de espírito. Vou contar uma passagem que aconteceu comigo logo depois do meu diagnóstico da Esclerose Múltipla. Já havia um ano que eu estava tomando toda semana injeções de Avonex para ajudar no meu tratamento. O primeiro ano e cheio de dúvidas, receios e medos de estar fazendo alguma coisa fora do nosso alcance. E a fase que eu chamo de adaptação. Eu já estava voltando a praticar esportes e levar a minha vida da forma que eu podia. Uma tarde de sábado fui jogar futebol em um campo de várzea na zona norte de São Paulo. Estava esperando a hora do jogo, tinha chegado cedo e fui me abrigar debaixo de uma árvore. O sol estava forte e fiquei encostado nela. Olhei para cima e disse boa de escalar. Como não tinha ninguém por perto ensaiei o primeiro ato de subir e escorreguei. Pensei você não tem força para isso ainda. Dei a volta e vi que tinha uma situação melhor e foi assim, como em um passe de mágica, fui subindo sem nenhum problema e me sentei ali em um tronco confortável sentindo os mesmos sons e movimentos que sentia. Meus amigos chegaram logo depois e perguntaram o que eu estava fazendo ali e disse: vendo o campo aqui de cima podemos traçar uma estratégia para vencer o adversário e rimos até. Ao descer daquela árvore, a toquei e agradeci por ter me sustentado com tanto carinho em um momento de superação. E nunca mais deixei de subir e acreditar. Há quase dois anos estive em um parque na República Tcheca, chamado TEPLICKE SKALY, aonde existe o maior labirinto de rocha maciça da Europa e uma floresta em volta. Estava acompanhado da Vera uma amiga de lá e seu namorado, quando chegamos em uma encruzilhada que me impressionou. Gigantescas raízes de árvores como colocadas ali no caminho propositalmente. Tinha um guia acompanhando um grupo e perguntei por curiosidade e ele me disse que eram raízes de arvores que eram seculares e que tiveram seu tempo mas deram espaço para outras tomarem seu lugar, mas ficariam ali para sempre como lembrança. Nesse momento pedi a Vera que tirasse uma foto minha com aquela raiz, como ela representasse a minha primeira árvore que subi e meu deu forças para criar novas  raízes pela minha vida e pelos caminho que escolhi trilhar, não esquecendo nunca daquelas que deixei e fixei por aí, como uma lembrança de que algum dia me fizeram superar e lutar por uma causa, sentindo paixão e aproveitando a cada momento, o dom que recebi. Plante as suas raízes, suba em suas arvores. GOOD VIBES

O RETORNO

Escaladores desafiam suas montanhas. Viajantes suas estradas. Analisam suas vias, seus caminhos, suas dificuldades, seus riscos, seus mapas, suas passagens, seus apoios, seus equipamentos, seus planejamentos.   Olham em volta, contam com suas equipes e seus parceiros, acreditam na sua força e nos seus sonhos. Enquanto caminham para seus objetivos, observam a natureza e também a natureza humana, como ela reage a tudo isso, observando cada passo, cada detalhe, cada passagem, cada voz, ruídos, sons, aromas, tudo aquilo que faça lembrar esse momento, cada presença, cada olhar retribuído a quem cruza seu caminho e provavelmente nunca mais visto.   Para escaladores, somente o topo de sua montanha particular é seu objetivo, para viajantes o tocar do solo tão desejado. Mesmo ampliando e alcançando tudo isso, os riscos existem e somos vulneráveis a isso. Mas por que continuar? Para poder voltar! Sabemos que temos que retornar, para escaladores existe o dobro de atenção, pois nesses momentos de voltar um relaxamento considerável ocorre e os acidentes acontecem, muitos gastam quase toda a energia em uma subida e esquecem-se do retorno, para viajantes ocorre uma melancolia, uma aflição, um desejo de mais um dia para finalizar seus objetivos no tempo esperado.   Mas lembre-se que retornar é muitas vezes prioritário, mais do que se imagina. Podemos imaginar que não existe diferença para nós, mas é nessa transição que nós portadores de Esclerose Múltipla precisamos nos concentrar o “nosso retorno”. E nesse contato tão renovador de nossa alma e que conseguimos uma regeneração em nosso mundo interior. Estávamos em nossas subidas ou em nossas estradas, quando recebemos um diagnóstico, nós desviamos momentaneamente, vontade de desistir, de abreviar esses desafios, mas tivemos que retornar, pois não existe desejo maior em mostrar que podemos. Portadores ou não.   Retornar significa estar consciente de ter seus deveres cumpridos, para consigo e para com o próximo, trazendo e ampliando conhecimentos, incentivando cada um a sua volta a descobrir os melhores motivos de ir em busca de uma melhor cultura social e moral.   Já se imaginou simplesmente sozinho como apenas uma voz, uma mente, um pensamento, pode ser em torno de uma imensa montanha e desafiadora ou no meio de uma cidade da qual ninguém conhece você?   E nesse exato momento, de um deserto interior, que buscamos a alegria de forma agradável e iluminativa. Projetamos mentalmente o que aprendemos, não apenas o que vimos e sim o porquê de tudo isso. Aprendi em todos esses momentos a lembrar de sempre sorrir, quando um cansaço ou uma estafa está por chegar. Um olhar em volta e tudo retorna ao princípio.   O grande escritor português, José Saramago, escreveu esse texto sobre viajantes que chegou as minhas mãos em um momento muito importante e decisivo na minha vida há alguns anos: – “A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: – Não há mais o que ver, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” Precisamos, portanto conhecer o que está por acontecer nesses momentos e quando isso acontece, somos nós que causamos esses efeitos, sempre constatando que há vida em toda parte, movimentos e ações. Não existe diferença entre a altura de uma montanha ou o tamanho de uma estrada e sim como você conseguirá retornar, narrando suas experiências de forma edificante, das lições absorvidas, a harmonia e o entendimento que tanto precisamos, simples assim. GOOD VIBES

QUANDO UM DESERTO SE TORNA MAIS QUE UM DESERTO

Como se tornar um movimentador, como se movimentar quando parece que tudo que você fez anteriormente, conquistou ou descobriu, parece ter sido deixado para trás. Sim estou dizendo de tudo que escolhemos, de tudo que surgiu a sua base, as suas histórias. Não estou falando sobre saudades, desse tempo ou outro sentimento que invada meus pensamentos, estou querendo falar de tudo àquilo que foi um exemplo positivo ou negativo, exemplos que me transformaram no que sou hoje, honra, caráter, princípios, respeito, dúvidas, não quero falar dos erros, mas sim das experiências.  Falar; sim eu já passei por aqui, já estive nesse mesmo momento, já senti essa provação essa angustia, já senti essa paz de saber, de sair de uma situação adversa ou receber isso como um presente para toda uma vida. Sim, chega o momento de finalizar uma fase tão extensa, de um deserto de tantas idas e vindas, de tantas subidas e descidas, de fazer esquecer aquilo que fez parte de uma forma como se não tivesse continuidade sobre isso, já foi escrito, o ciclo já foi fechado, em algum lugar ficou aquela sensação de ter sido reservado para sempre em meus pensamentos o que fiz, por amor, por dedicação, por paz de espírito, por um reconhecimento. Sejam eles considerados atos heroicos pela minha linha de vida ou apenas uma consequência do que desejei, sim, eles acontecem por nossos movimentos, eu tenho certeza que eles interessam mais a um grande e imenso círculo de atitudes de muitas outras pessoas em volta disso do que a minha necessidade própria, apenas de meu interesse. Nossos desertos interiores são os mais imensos, pois não sabemos como dividi-los sem expressar tristeza, decepção, angustia dúvidas ou ingratidão. Se mudarmos esses adjetivos para alegria, compaixão, comprometimento, esperança, reconhecimento e porque não fé, dentro de nossa capacidade de superar esse obstáculo, nossa capacidade de nunca deixar de acreditar, se você esta lendo isso é porque já superou muita coisa independente do seu ciclo de vida que ainda está por aqui, o que importa se você tem a juventude ou a maturidade em seus traços estampados em sua face, o que vale é sim o que seus pensamentos e sentimentos se transformam no seu dia-a-dia. Lembro-me de uma passagem que tive na minha primeira vez no Aconcagua a maior montanha das Américas.  Foi uma experiência realmente de superação até chegarmos a Plaza de Mulas nosso acampamento base a 4300 mts. Existe uma subida no trajeto com um aclive de 200mts chamado Costa Brava,  para chegar aos 4000mts, mas antes existe  Playa Ancha um setor de 10km de caminhada que é uma paisagem desértica. descritível apenas com imagens . Já cansado e lutando contra a ESCLEROSE que me acometia pelo calor e eu trabalhando o corpo e andando sozinho, estava entre os mais rápidos e os mais lentos, me deu uma proximidade do vazio, de solidão, mas feliz em ver tudo aquilo a minha volta. Vi meus amigos subindo o Edu Tonetti nosso guia de apoio na frente, eu parei e paralisei. E disse comigo mesmo, ACABOU.  O fracasso por incrível que pareça se transforma em desculpa e pensei: “Bom eu tentei!” Mas na verdade não tinha tentado, estava apenas me deixando levar pela apatia e pela dor, respirei  fundo  e perguntei para mim mesmo : – Você vai subir ou quer que eu te empurre? Continua …

VIDA – Blog do Chico

Eu não me culpo de conseguir enganar a morte em seus aspectos ou formas e não me culpo também de gostar de viver. Eu me infiltro pelas vias e veias que a vida me dá refletindo assim os instintos da lei da sobrevivência que necessito, mas não consigo ainda entender os reflexos de desilusões ou sentimentos mesquinhos de não conseguir imaginar o amanhã. Ouvi ontem de minha avó uma frase sobre sua idade e que já tinha vivido o bastante e sua ideia de que partir estaria próximo, o que me impressionou, pois existem épocas em que parece que escutamos alguém nos chamar e não temos como responder. Eu fiquei pensando se isso não seria um chamado da vida para relembrar e pensar que isso tudo tem sentido, pois ela tem sim e como tem. Lembrei-me de uma conversa em um fim de tarde com meu avô, no hospital em que ele esteve internado pela última vez a alguns anos atrás, ele me disse: – é muito bom viver, pena que um dia, tenhamos que ir embora. Aquilo me entristeceu e me alegrou ao mesmo tempo, a vida tem duplo sentido, algumas vezes. Lembro também dos meus dias de hospital, quando conseguia imaginar como sairia daquela situação, nunca pensei em sequelas da EM ou que me comprometessem para continuar a viver e curtir uma vida igual a que eu tinha antes, eu só tinha esquecido um detalhe, outras pessoas sabiam o que tinha acontecido comigo, devia ter tentado manter mais em segredo, assim não pensariam que seria incapaz de fazer muitas coisas ou até melhores do que antes, como ocorreu. Ser um sobrevivente a tudo isso, todos os dias, nos condiciona a refletir melhor sobre amizades, amor e compaixão. Nos deixa mais fortes para a guerra, para o revide, para combater o mal que nos aflige, para colocar em pauta nossas opiniões, para nosso VIAJANTE DE DESERTOS, de uma forma ou de outra manifestar e mover o mundo para assim não sermos uma simples lembrança ou uma estatística de uma complexidade que muitas vezes nós colocamos por não acreditarmos em continuidade. A maioria de nossos semelhantes não quer enfrentamento para não saber de suas falhas, pois quem aceita ou quer admitir alguém que realmente saberia viver melhor? Nesses anos todos, levei para dentro de mim, tudo aquilo que me fez refletir VIDA, mesmo sendo em uma fase difícil, com uma desilusão, um não reconhecimento profissional, um amor não correspondido ou uma vida que ainda não se deu por satisfeita. Basta eu lembrar um sorriso, uma mensagem de bom dia, um abraço, um telefonema, uma viagem, uma amizade sincera,  um aceno positivo, um parabéns, um desafio superado, uma vitória, uma alegria, uma gargalhada, um olhar, um até logo,  um Adeus, um Eu também te amo,  um cheiro ou sabor que me leve a lembranças, de um motivo para sempre continuar. Uma vez uma pessoa de muita fé e luz, de idade já avançada, me disse que bastava eu sentir apenas um toque ou uma suave brisa em meu rosto para continuar a viver, eu tinha apenas 17 anos quando ouvi isso, então desejei que todos os dias isso acontecesse, seja da forma ou do jeito que vier, não importa, minha alma essa sim é imortal. E a sua? GOOD VIBES.