Quebradinhos

  Somos os quebradinhos com esclerose múltipla. O termo quebradinho é cunhado pelo colunista Jairo Marques que escreve no jornal Folha de São Paulo, designando os deficientes em geral. Quebradinho é um termo fofo, é engraçadinho. Não somos coitados. Coitado vem do verbo arcaico “coitar”, do latim coctare, que significa desgraçar ou atormentar. Assim, um coitado é alguém que sofreu coita, ou seja, uma desgraça, dor, pena ou aflição. Não somos coitados, alguns até são, mas a pena é um fardo muito pesado para uma existência comum. Quebradinhos que somos; capazes de realizar coisas boas e de fazer verdadeiras porcarias. Somos capazes de qualquer emoção humana. Sim, temos direito de entrar em shows, bancos e qualquer lugar,  desde que como todo ser humano, dê–nos oportunidade. Inclusão é trazer para dentro, participar do processo, da realização. Somos cidadãos, queremos também fazer história, alguns por sua deficiência, outros pela referencia, outros pela ciência. A verdade é que todo quebradinho é um ser humano, capaz de escrever sua própria história. Com direitos sim, mas também com deveres. Isso nos torna cidadãos da sociedade, e que ora compreende e ora repreende. Somos Quebradinhos porque somos diferentes, nossa condição nos faz diferentes, mas a diversidade é perfeita, é o motor da vida. E Quebradinhos que somos, somos simplesmente humanos.

E daí?

  Você que não está nem aí. Por favor, conecte-se. Se liga, tem um mundo acontecendo aí fora. A vida transforma-se e você não está atento Se liga, o planeta Terra está mudando, embora sua mudança seja lenta. Há lixo acumulando-se, florestas sendo destruídas e seres vivos em extinção. Crianças morrem de fome, a guerra ceifa a vida. A fome desnutre o corpo e as ideias. A doença  contamina a água, o ar, a terra, a nossa história. Você deve prestar atenção ao papel jogado na rua, à torneira pingando, à luz acesa, à semente germinando. Fique ligado, à criança que está crescendo, o sol nascendo, às palavras surgindo, à poesia sendo liberada. Se liga na boa ação do transeunte, ao gesto sincero e na integridade do coração. Se liga na oração, na confissão do amigo. Se liga na ciência e suas descobertas que permitem desvendar mistérios. Se liga na religião, se liga no sermão profundo, na entoação do cântico. Se liga na música, pede a ela paz interior. Se liga na política, na corrupção, na ideologia, mas não se revolte. A vida há de surpreender. A canção não acabou a fogueira não apagou ela se ergueu em cinzas. O gesto ainda conquista, precisamos apenas cultiva-lo. Se liga, a oportunidade é única:  de ouvir a música, de sorrir à flor, de agradecer por esse mistério. Se liga, que a vida, está aí, gritando insolente na sua alma, improvável destino do ser. E você só sabe me dizer: e daí? Como assim?