Paz

Esta semana foi bastante intensa, saí com uma amiga, passamos a tarde juntas, conversamos, demos muita risadas, comecei um curso e conheci outras pessoas muito alto astral, apesar de problemas sérios de saúde que vivem. Acordei me sentindo bem e feliz, apesar de ter aplicado a medicação ontem, o que às vezes traz um desconforto e um mal estar, estou ótima, sem nada disso. É muito boa esta sensação de bem estar e este estado de paz. Lembrei de um desenho dois ratinhos que um virava para o outro e dizia: “o que vamos fazer hoje?” e o outro respondia ” vamos tentar conquistar o mundo…”. Hoje estou me sentindo assim, quero “conquistar o mundo”. Estranho, mas sinto que tenho que aproveitar. Passamos por altos e baixos durante a vida, então porque não aproveitar quando nos sentimos em alta. Toda longa caminhada começa com um passo, provavelmente não conseguirei percorrer todo o percurso hoje, mas, com certeza, darei o primeiro passo. Uma coisa é certa darei um passo para frente e não retornarei… posso demorar um pouco mais para percorrer o caminho, mas irei. Não estou com a intenção de fazer atos radicais, acho que vou começar comprando uma tintura para o cabelo, vou pintá-lo e revitalizá-lo. Manterei a mesma cor: “vermelho”, pois me sinto poderosa assim. Aproveitar a vida, aproveitar os bons momentos, pois a vida é feita de momentos. É isso que quero fazer hoje. Olhar para vida e para dentro de mim mesma com esses olhos de positividade. É amigos, dias sim, dias não, vamos sobrevivendo, mas façamos de tudo para esticar e perdurar a positividade e os sentimentos bons, quando eles nos invadem. A vida é intensa e curta! Por isso temos de curtir todos os momentos, em especial sabrear lentamente os bons. Não aconteceu nenhum fato tão relevante, apenas uma sensação interna, uma percepção. Isso me faz pensar: as ferramentas para sermos melhores e felizes estão dentro de nós, e quando as acessamos precisamos aproveitá-las, para que assim não esqueçamos do caminho, que na maioria das vezes, não é longo e está dentro de nós, muito mais perto do que às vezes imaginamos. Portanto, sigamos “caminhando e cantando”, vivendo com intensidade e procurando sempre a felicidade. VIVA A VIDA!!!!!

NEURÓTICA

Segundo o dicionário: “Neurose é um quadro psiquiátrico que caracteriza-se por dificuldades de adaptação por parte do indivíduo, embora este seja capaz de trabalhar, estudar, envolver-se emocionalmente e estar bem entrosado com a realidade. Uma pessoa neurótica está permanentemente em conflitos psíquicos que a impedem de aproveitar a existência de forma prazerosa.” Interessante essa definição, Ultimamente estou neurótica, mas um pouco diferente do que diz a definição acima, pois na verdade estou com neurite ótica, logo, fazendo a junção das palavras NEURÓTICA. A neurite ótica nesse caso é uma sequela da Esclerose Múltipla, que no meu caso deixou-me com uma lesão no nervo ótico. Essa lesão causa dores de cabeça, enxaqueca e intolerância à luminosidade. Ontem tive um episódio desses, não conseguia ficar na luz, passei o dia deitada, tomando remédio com um tapa olhos. Admitindo que ainda não estou cem por cento. A cabeça ainda está dolorida, e a visão fica turva às vezes. Sabe aquela sensação de ressaca, é exatamente assim que estou me sentindo hoje. A vida não apara e o tempo não para, por esta razão cá estou eu tentando executar minhas tarefas e cumprir meus compromissos. A Esclerose Múltipla não pode e não vai me dominar, tampouco parar minha vida. Vou brigando com ela, não desisto, essa não é uma opção válida. Dias melhores, dias piores, mas dias de luta e de resistência. A Esclerose não me tem, nem me domina. Há dias em que preciso parar para me refazer e reiniciar, mas desistir ou parar jamais. Todos nós que sofremos com essa patologia temos nossos altos e baixos, mas não podemos e não devemos “jogar a toalha” por conta disso. Mas pensando bem, quem nessa vida não tem altos e baixos. Nesse aspecto não somos diferentes de ninguém. Quer dizer todos somos diferentes, mas todos passamos por dificuldades e momentos bons e ruins. Quanto mais o tempo passa, percebo que vou me conhecendo mais e enxergando melhor minhas dificuldades e até limitações e por esta razão é que entendo que existem horas que é melhor parar, repousar e melhorar, para depois continuar com as atividades normais da vida. Não adianta querer brigar ou guerrear com a Esclerose Múltipla, pois isso afeta nosso emocional e piora nossa condição física. Andar com ela e levá-la, sem deixar que ela nos domine, essa creio ser a melhor solução, pelo menos a meu ver. Não sou a dona da verdade, nem pretendo, cada um de nós tem sua própria maneira de lidar com as dificuldades da patologia, mas deixo aqui minha opinião, quem sabe alguém se identifique e consiga de alguma forma lidar melhor com essas questóes da patologia. O importante é não se deixar dominar pelos problemas ocasionados pela Esclerose Múltipla, estar no controle de nossas vidas, nossas ações e emoções é essencial para nossa saúde e bem estar. FIQUEMOS EM PAZ E BEM!

Querer

O que queres? O que pretendes? Acredito que todos nós já nos fizemos essas perguntas ou fizemo-nas à alguém. Faz parte da vida sonhar, querer realizar os sonhos, querer e não querer. Depois do diagnóstico de Esclerose Múltipla continuo querendo e sonhando, mas os parâmetros mudaram. Quero estar bem de saúde, o melhor possível, para desfrutar de tudo o que a vida me proporciona. Tudo que sonho e desejo estão intimamente ligados com esta questão estar bem. Querer estar bem é poder fazer minhas tarefas cotidianas de forma autônoma, ir e vir com independência, pensar, escrever, cantar, participar de atividades com colegas, amigos, familiares e principalmente com minha filha, meu tesouro. Quero e devo me manter bem, dentro desses parâmetros, para continuar sonhando, conquistando e criando novos projetos. Ter uma patologia não pode nos limitar, somos mais somos muito mais do que uma pessoa com uma patologia que não tem cura e que causa dissabores. Analisemos: se é uma patologia que não tem cura, o que é possível fazer? Se tratar, tomar remédios, fazer fisioterapia, psicoteraterapia, enfim o que for preciso e necessário para sentir-se bem e pleno. Tudo o que não pode ser modificado, não é um problema, é um dado da realidade, temos que conviver com ele da melhor forma possível. A patologia não precisa ser necessariamente nossa inimiga. Certamente ela é nossa companheira, temos de respeitá-la, mas desafiá-la sempre, no sentido de sempre lutar para melhorarmos nossa condição física, mental e emocional e até espiritual. Ainda tenho muitas coisas a fazer, muitos sonhos a realizar, muitos quereres… “Dias sim, dias não” o importante é “sobreviver sem um arranhão”, como diria Cazuza. Em meio a altos e baixos que a vida nos proprociona o mais rellevante é não perdermos nossa essência, nossos sonhos, nossos quereres. Cada um sabe a “dor e a delícia de ser o que é”, de acordo com a letra da canção. Se temos a possibilidade de sonhar e querer, temos também inteligência e imaginação para conquistarmos efetivamente nossos objetivos. Não é uma jornada fácil, mas quem disse que seria, porém é possível, e quem irá dizer que não… Nosso maior inimigo é o nosso próprio eu, nosso comportamento e nossas atitudes. Posso querer tudo e de tudo, conseguir vai depender apenas da minha imaginação, da minha transpiração e da minha força de vontade. O caminho para conquistar os sonhos não é fácil, mas com certeza não é impossível. Pode nos trazer surpresas, imprevistos, problemas, que por vezes nos fazem percorrer outros trechos, até alcançar aquilo que almejamos. A vida é um presente, a inteligência e a imaginação são dádivas, que podemos e devemos mobilizá-las e canalizá-las para tornarmos realidade nossos sonhos, nossos quereres. Alguns de vocês podem estar pensandos o que ela quer? Respondo: quero viver em paz e intensamente, cada momento que aparece, que é me proporcionado. VIVER, SONHAR, QUERER, FAZER, DESEJAR, AMAR!!! Pode ser? Responda quem quiser ou quem puder…

ENTENDER

Muitas vezes quando estou na rua sozinha andando com o andador, fiel escudeiro e companheiro, as pessoas em volta olham e muitas não entendem. Pensam que é uma cadeira de rodas que estou empurrando, mas como assim em pé empurrando uma cadeira? Pois é, esta é a pergunta que me fazem com frequência. Respondo, explicando isso é um andador com rodas e assento, quando estou parada posso travá-lo e sentar-me para descansar, esperar um ônibus, ficar na fila do banco etc. Normalmente as pessoas ficam surpresas e aí vem outra pergunta: “você fez alguma cirurgia na coluna?” ou ainda “está com problema no joelho?” obviamente respondo que não, que na verdade tenho Esclerose Múltipla. Mais uma vez causa estranheza essa informação, seguida da expressão: “mas você é tão nova!” Pois é, a Esclerose Múltipla aparece em adultos jovens, em sua fase mais produtiva. Por essa razão sempre explico a todos que me indagam no que consiste essa patologia. Esclarecer e falar sobre, é a melhor forma de conscientizar as pessoas e acabar com eventuais preconceitos. Nada adianta ter um Dia Internacional de Conscientização a Esclerose Múltipla e um Dia Nacional de Conscientização, se nós mesmos, afetados pela patologia não falarmos dela e não esclarecermos as pessoas ao nosso redor. A maior parte das pessoas nunca ouviu falar, tampouco sabe de alguém que está diagnosticado com a patologia. Ainda há muito o que se estudar sobre a Esclerose Múltipla. Mesmo entre nós não sabemos sobre todas as possibilidades e necessidades. Cada paciente tem seus sintomas e sequelas. É muito particular e peculiar esta situação. Se é difícil para nós mesmos nos entendermos, imaginem só para as pessoas “normais” que não sofrem com a doença e não conhecem ninguém que lide com ela diariamente. Estar e ficar bem, dentro daquilo que for possível é o que todos almejamos. Para isso creio que seja imprescindível falar, discutir e se informar sobre a doença. Percebo que quanto mais vou conhecendo minhas reações e minhas possibilidades, consigo lidar melhor com as situações do dia-a-dia. Isso é fundamental para nossa qualidade de vida e para a maneira como enfrenta mos as  adversidades, os problemas cotidianos. “Muita calma nessa hora”, é um jargão  popular, mas extremante sábio e verdadeiro, com calma nas atitudes e paz no coração conseguiremos ter uma vida melhor e mais feliz. Tenho uma amiga, uma senhora de mais de setenta anos, que enfrenta a patologia com sabedoria e tranquilidade. A Sra. Neide, voluntária na ABEM – Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, é uma pessoa que apesar de ser cadeirante, mora sozinha, preserva sua independência, levando a vida em paz e exalando amor em suas ações. Uma pessoa com um espírito gigante e uma aura brilhante, colorida e feliz. Sempre direi isso minha amada amiga: “quando crescer quero ser como a senhora” e mais “a senhora é minha referência, minha “ídala””. Lutemos sempre, conscientizando as pessoas, exigindo direitos e tratamentos dignos e principalmente vivamos bem e felizes. Não é um dia no calendário que modifica a situação estabelecida, mas sim nossas atitudes e posturas. Não precisamos ficar reclusos ou escondidos, vamos viver, aparecer, explicar, amar e levar a vida com esperança e alegria sempre. Sejamos felizes!!!!!!!  

Finalizar uma etapa

Qualquer que seja  o fim, na vida as coisas temporais tem um fim. Podemos gostar ou não, mas elas têm fim. O fim pode ser bom ou ruim, não sei, talvez indiferente. Quando um acontecimento é desagradável, esperamos que termine logo. Quando estamos ”curtindo”, queremos que não termine jamais. Vou começar falando da finitude dos recursos da Terra; vivemos exaurindo recursos (água, combustíveis fósseis…). Vivemos como se ela fosse eterna, ou como se cada dia pudéssemos nascer num planeta diferente e cheio de recursos infinitos. A finitude do amor numa relação; o fim de uma amizade o fim da vida. Estamos exaurindo recursos sempre, esgotando sentimentos e  bom senso. O fim é o esgotamento dos recursos sejam lá quais eles forem: emoções raciocínios, materiais , saúde. A vida também tem um fim que corresponde ao esgotamento dos recursos utilizados para que a vida continue. Esgotamento físico de músculos, falência de órgãos, Parar de respirar, cérebro sem atividade tudo que em vida promove a continuidade (respirar, coração bater, cérebro com atividade). A existência é diferente da vida. Vida é um processo complexo de certa forma de existência. Nossa matéria, o corpo, não vai deixar de existir; ela vai se transformar.  Somos feitos de matéria orgânica e ela se transforma . Deixamos de existir? Nossas ideias vão ser contadas por outrem mas vamos continuar a existir? Não sei, mas acho que sim. Como unidade humana não, mas como parte de um organismo maior; a natureza. Existir, pelas lembranças que deixarmos, na mente de outras pessoas; nas nossas criações, ou melhor nossas adaptações; assim  nossa existência se completará. Finalizar  uma etapa é a transformação em outra. Não há fim. Apenas a nossa reciclagem   In memoriam a dois colegas da Abem que faleceram  recentemente.    A vida não cumpre o fim em si mesmo.

NORMAL?!

Quem já não ouviu a frase: “de perto ninguém é normal”. Confesso que quanto mais o tempo passa, concordo com essa afirmativa. Se ninguém é “normal” consequentemente ninguém é “igual”. É todos somos diferentes, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. O bicho homem vive em sociedade, está se relacionando o tempo todo com os outros, e isso ocorre cada vez mais e mais. Os meios de comunicação estão cada vez mais diversificados e conseguem fazer com que as pessoas estejam em contato umas com as outras o tempo todo, no mundo inteiro. Parece loucura, mas é a pura realidade. O Grande desafio consiste em como estar em sociedade e comunicar-se o tempo todo com todos e não ocorrerem conflitos? Se cada um é de um jeito, pensa e age de um jeito, como conseguir harmonizar tantas ideias e tantas pessoas e grupos ao mesmo tempo. Ainda não alcançamos esse estágio… Por tudo que sabemos e vemos as diferenças muitas vezes falam mais alto e causando guerras, confrontos e desavenças. Pensemos um pouco: o que significa ser diferente? Ser e agir cada qual no seu cada qual? Creio que isso significa que somos únicos, singulares e que cada um tem sua importância e papel nessa loucura que chamamos de vida. Somos todos diferentes, enfermos ou saudáveis cada um tem sua opinião, seu lugar e seu espaço. Ter a consciência disso me fortifica, pois apesar de ter esclerose múltipla, sei que posso e tenho vez e voz. Já falei sobre isso algumas vezes, mas não canso de repetir: quero ser protagonista da minha vida e de alguma forma ocupar meu espaço na sociedade, no mundo. Algumas vezes as forças faltam, some a disposição, a dor toma conta do corpo, aí é preciso ter paciência e sabedoria para reperá-las e sentir-se bem novamente. A esclerose múltipla têm sintomas flutuantes, que vão e vem, isso resulta em constantes mudanças nesses pacientes, como eu. Não quero tapar o sol com a peneira e dizer que tudo é sempre lindo e perfeito, mas quero entender que todos somos diferentes, eu sou diferente, e então conseguir lidar com toda essa diversidade. Acredito que o mais importante é tentar entender toda essa loucura para conseguirmos seguir sempre em frente, caminhando, aprendendo, vivendo… Mas aí penso como entender tudo e todos se fomos e agimos sempre diferentemente. Talvez a palavra chave seja: RESPEITO. Com doença ou sem doença, todos somos diferentes. Normal é ser diferente, eis a regra. Então, não vamos nos esconder ou negar que temos uma patologia e por isso somos inferiores. Apenas somos diferentes, como todo mundo. Saber, falar e viver com esclerose múltipla não é fácil, sei bem disso, mas quando penso na diversidade que existe no mundo e nos problemas e questões que vêm com elas, consigo até ser mais resignada. Resignação não quer dizer conformismo ou inércia, apenas quer dizer: tudo bem sei que sou diferente e muitas vezes o caminho que preciso percorrer é diferente do da maioria das pessoas. Somos diferentes, somos NORMAIS.

Mudanças

O mundo está sempre em movimento. “Tudo munda o tempo todo no mundo”, como diria Lulu Santos. A vida proporciona mudanças sempre. É por conta disso que sempre precisamos nos reinventar. Podem existir mudanças físicas, tanto do nosso corpo, como do ambiente, da sociedade. Para acompanharmos e nos adaptarmos às mudanças precisamos estar abertos, receptivos, e mais que isso precisamos ter lucidez para incorporar, solucionar ou contornar situações adversas. A nossa mente não para nunca, mesmo que nosso corpo não demonstre agilidade ou flexibilidade para execução de algumas tarefas, ainda assim nossa mente não para, sempre trabalha. Mudanças são como ondas, elas vem e alteram o ambiente, os movimentos, depois dela a vida continua a fluir, mas de maneira diferente. A onda vem chacoalha as estruturas, desarruma a casa os pensamentos e os caminhos. Entender que as mudanças, os movimentos servem para nos tirar da nossa zona de conforto, proporcionando-nos pensar diferente, inventar e sonhar. A vida, as mudanças que ela sempre nos traz tem o condão de nos desafiar e nos instigar. Sobreviver sempre será possível, basta força e vontade. Claro que dizer e escrever é muito mais simples, sei bem disso. Passar pelas turbulências que chegam para nossa vida é difícil, muitas vezes pode levar um tempo maior que pensamos ou que queremos. Aí sem a ansiedade, as dúvidas e os medos. O tempo, que não para, nos proporciona desafios e sempre situações inusitadas e diferentes do que vivemos até então. Temos de ter em mente que todos somos diferentes, temos necessidades diferentes e logicamente resolvemos nossos problemas e dificuldades diferentemente. Escrevi tudo isso hoje no intuito de instigar as mentes dos amigos e fazer com que possamos passar pelas adversidades e perdas que a vida nos proporciona. Pessoas vêm e vão todo tempo, os pensamentos também. A Vida está sempre em mutação. Que bom que isso acontece, assim temos a oportunidade de nos mover, nos reinventar, amar, sorrir, chorar, sentir o coração bater mais forte em diversas situações e por pessoas e motivos diferentes. Sobreviver é preciso, mas viver é sempre bom e emocionante. Os obstáculos estão aí e conforme mudamos eles mudam também. A certeza que temos é que tudo o que passamos serve para o nosso próprio crescimento, para sermos melhores…

Meio cheio ou meio vazio?

Um copo com água pela metade está meio cheio ou meio vazio? Como vemos os acontecimentos, os problemas e os contra tempos que a vida nos apresenta. Eu prefiro pensar que o copo está sempre meio cheio, que com mais de esforço, perseverança e água ele estará cheio, quem sabe até transbordará. Os problemas existem para serem resolvidos. Existem coisas que não podem ser mudadas por nós então o que fazer? Talvez tentar um caminho diferente, passando ao lado daquela situação, ou escolher outra estrada mesmo. Recalcular a rota para alcançar o resultado pretendido. Paciência, tolerância e resiliência são essenciais nesses momentos. Temos limitações e dificuldades físicas, mas em compensação temos inteligência e imaginação (copo meio cheio). Com um pouco de planejamento e força de vontade podemos alcançar nossos objetivos. Por vezes tenho muitos lugares para ir no mesmo dia, não posso dirigir, portanto, dependo do transporte público, e aí o que fazer? Penso em tudo o que preciso fazer e onde preciso ir, coloco numa lista as prioridades e começo por elas. Hoje faço uma coisa, amanhã farei outra, assim ao final da semana terei alcançado meus objetivos. Pensar e planejar, dividir não é sinal de fraqueza ou de falta de vontade, motivação, é sim uma prova de inteligência e imaginação. Os problemas físicos que enfrentamos são reais, mas não colocam um ponto final em nossas vidas. Vamos rever e refazer nosso caminho com atenção. O poeta já disse: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Basta repensar, refazer o caminho, para alcançar o que queremos. Quando temos, ou estamos com alguma limitação precisamos pensar “fora da caixinha”, só assim conseguiremos executar as tarefas ou fazer aquilo que desejamos. Mais uma vez: o copo está meio cheio, falta pouco para enchê-lo, pode demorar um pouco mais, posso ter de pegar um caminho que seja mais longo, mas conseguirei, sou capaz. A vida pode apresentar dificuldades e obstáculos que parecem intransponíveis, mas se pensarmos melhor, refazermos nosso planejamento, refazermos a rota, chegaremos lá. É preciso coragem para enfrentar os problemas e reconhecer nossas limitações, mas não vamos perder de vista as possibilidades que temos, usando a inteligência e a imaginação. Então o que temos para hoje? Um copo meio cheio de água, esperanças, projetos, desejos… E tudo o que quisermos! Tudo é possível!!! Copo sempre meio cheio, é claro.

PERCURSO

Tantos locais para conhecer, tanta coisa a fazer, mas como chegar, com ir até o local? Pois é, antes não precisava pensar como percorrer o caminho e chegar até o destino. Pegava o carro ou pegava o transporte coletivo (ônibus, trem ou metrô) e simplesmente só me preocupava com o que deveria e queria fazer. Tinha um propósito, um objetivo, o caminho a ser percorrido e de que forma, isso não era importante, era apenas uma atividade meio para alcançar o objetivo. Despois da Esclerose Múltipla essa etapa tem de ser planejada. Atualmente uso um andador com assento e rodinhas, não posso dirigir, então e percurso tem de ser percorrido a pé ou de transporte coletivo. E aí? Como fazer? A chave para resolver estas questões é o planejamento. Quantas coisas posso fazer no dia? Está quente? Chovendo? Abafado? O clima influencia no planejamento, afinal parte do percurso sempre é percorrido a pé. Chovendo não consigo segurar o guarda-chuvas e o andador ao mesmo tempo. Aí tenho que esperar a chuva passar. Sempre quando tenho algum compromisso penso nessas questões, como posso me virar sozinha, como fazer o que tenho que fazer sozinha? Se tiver um auxílio, uma carona estou no lucro, procuro manter minha autonomia -, procurando fazer o que preciso sozinha, sem contar com a ajuda de terceiros, sejam familiares ou até mesmo transporte individual, como o táxi. A Esclerose Múltipla causou algumas sequelas e por conta disso preciso me adaptar para conseguir fazer o que desejo. É importante me sentir capaz, isso traz uma satisfação imensa. Não estou falando de coisas muito complicadas, tarefas simples como comparecer ao INSS, ir ao banco, ir ao shopping, todas essas coisas, quando consigo, executá-las fico feliz, me sinto plena e capaz. Mesmo se depois precisar de uma cadeira de rodas, pretendo continuar fazendo estas atividades. Coisas simples, porém que preservam minha individualidade e independência. Importante sempre mantermos a mente aberta e encarar os problemas e tentar vencê-los. Vale lembrar aquela historinha da água, existe uma pedra no caminho dela e para superar esse obstáculo ela simplesmente a contorna, mostrando que se não podemos retirar o obstáculo, podemos com certeza, traçar uma nova rota, mudar um pouco o caminho, para conseguir alcançar o objetivo. Estou viva e posso fazer muitas coisas, apesar de algumas limitações. Penso que devemos circular pelas ruas, pelos transportes públicos, pois só assim seremos vistos, observados, e só dessa maneira faremos com que as pessoas notem as nossas dificuldades e possam pensar em como podemos ser ajudados. Cabe às autoridades públicas pensar nas questões de acessibilidade, mas temos que nos mostrar para que elas e a sociedade como um todo entenda e veja o que é preciso ser feito para que todos, efetivamente, possam circular com autonomia e liberdade. Na Faculdade de Direito ouvi uma frase, que confesso, só consegui compreendê-la plenamente agora com as limitações que tenho. A frase é a seguinte: “precisamos tratar diferentes aqueles que são diferentes para que esses tenham acesso às mesmas coisas que os demais”. Caminhos, aparelhos e objetos diferentes, modificados e adaptados são fundamentais para que possamos estar sempre livres e plenos. A liberdade é um bem preciosíssimo que deve ser preservado sempre e para todos. Respeito é sem dúvida a válvula propulsora para que isso ocorra. O que todos precisamos é de respeito e de tratamento digno para que nossa existência não seja em vão e passe despercebida aos olhos dos outros. Pesemos nisso…

TEMPO

                  “Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo.” Hoje acordei pensando nessa música do grupo Legião Urbana e fiquei justamente pensando nisso. Não sabemos quanto tempo temos, a única certeza que temos é que um dia ele cessará… Desde o dia do nosso nascimento o nosso tempo é finito.                 Portanto, não cabe ficar remoendo questões do passado, a ideia é viver intensamente cada instante. Hoje escrevo sobre isso, pois é algo que quero aprender e conseguir tocar em frente.                 Dias bons e dias maus acontecem, como nós os enfrentamos é que faz toda a diferença. Temos que fazer o melhor possível cada dia que abrimos os olhos e vemos um novo dia. Temos limitações, isso é fato, quem é que as não têm.                 Penso que o fato de ter uma patologia como a esclerose múltipla não pode pautar, nem definir em tudo nossa vida. Devemos sempre ter consciência dela e das limitações que nos causa, mas não podemos usá-la como desculpa ou argumento para que não façamos simplesmente nada.                 Entender sua condição é fundamental. Aprendi que posso resolver alguns problemas sozinha sim, mas preciso sempre fazer um planejamento mínimo, por exemplo: preciso ir ao banco e ao INSS, um local fica bem distante do outro então, faço a programação para um dia ir a um local e no dia seguinte vou ao outro.                 Temos pressa para resolver nossos problemas, mas precisamos sempre pensar qual a melhor forma de executar aquela tarefa. A fadiga vem isso é certo, mas podemos conseguir realiza-las sempre, podemos tudo o que quisermos.                 Tudo é possível. Temos todo o tempo do mundo para realizarmos nossos projetos e sonhos. Muitas vezes sofremos por frustrações e erros cometidos. A varinha de condão não vem nos conceder os pedidos mais íntimos, porém, podemos nos organizar para conseguirmos conquistar efetivamente o que queremos.                 Muitas vezes teremos de traçar caminhos diferentes e gastaremos um pouco mais de tempo do que desejávamos, mas é possível sim conquistar coisa que desejamos e executar os planos elaborados.                 O tempo tem de estar a nosso favor, usá-lo de forma mais sábia cabe exclusivamente a nós. Quanto tempo temos, não sabemos, mas sabemos que podemos sempre fazer o melhor e conseguir usá-lo a nosso favor.                 Muito ou pouco é relativo o que é pouco pra um é muito para o outro. O importante é vivermos intensamente e com muita vontade. O tempo é concedido a nós para usarmos da melhor forma que conseguirmos.                 O livre arbítrio existe isso é fato, então o que fazemos do tempo que nos é concedido é de exclusiva responsabilidade nossa.                  Idas e vindas fazem parte dessa jornada. Quedas, tropeços e imprevisto também, mas os obstáculos existem para serem superados. Sempre aparecem para nos fazer pensar e crescer. Aprender sempre.                 O tempo sempre é sempre curto, pois sempre queremos fazer mais… Tirar o pé do acelerador, olhar a paisagem em volta e as pessoas que estão ao nosso redor ajuda na jornada, nos dá confiança e ânimo.                 Temos todo o tempo do mundo, vamos usá-lo a nosso favor sempre. Todo ação começa por um pensamento, uma fagulha de desejo ou por uma inspiração.                 Portanto, vamos nos inspirar e motivar sempre. Tudo podemos, desde que as etapas do processo de conquista sejam planejadas e realmente desejadas.                 Deixo a pergunta de hoje: “O que você fará do seu tempo hoje?” Tome posse dele e faça sempre o melhor possível. A satisfação em fazer o que planejamos e desejamos é impagável e traz uma satisfação imensa.                 Tempo como nosso amigo e partícipe…