Por Wellington Oliveira Foi exatamente há 13 anos que ouvi de um Neurologista: Wellington você tem uma doença ainda sem cura chamada Esclerose Múltipla. Confesso a vocês que depois de 7 dias internado com suspeita de labirintite, aquilo me soou como um alívio. Afinal, eu já tinha um diagnóstico. Apenas hoje, mais de uma década depois percebo o quanto fui privilegiado por, ainda no primeiro surto, ter o diagnóstico tão preciso e tão rápido. Hoje tenho a real noção da importância disso na progressão da EM na minha vida e poder, mesmo depois de tantos anos manter-me ativo, trabalhar e sem apresentar sequelas ou sintomas graves decorrentes da EM. Me chamo Wellington, sou Educador Físico e Personal Trainer com especialização em reabilitação cardíaca e doenças raras e também atleta amador nas horas vagas. Minha formação me permitiu por anos manter uma rotina de treino e a prática de atividade física regular, fator determinante quando falamos de QUALIDADE DE VIDA na Esclerose Múltipla. Formado pela UFRJ há quase 20 anos, já trabalhei com preparação física e fisiológica nos mais diferentes esportes, principalmente na corrida. Como atleta amador, já fiz dezenas de provas que podiam variar entre 5Km e 50Km. Em 2018, alguns meses após meu último surto, resolvi encarar uma rotina de treinos muito maior do que estava habituado, com o objetivo de participar do Ironman do Rio. Foram meses duros de preparação até a prova e através desse projeto, o qual dei o nome de “Projeto 50 metros” me aproximei de milhares de pessoas que me fizeram aprender e conhecer muito mais sobre a EM e, principalmente sobre outras pessoas com o mesmo diagnóstico que o meu. Hoje, além do trabalho como Personal Trainer (inclusive com pessoas com EM), mantenho um canal sobre qualidade de vida e EM no Instagram chamado @emimpulso onde posso informar e ajudar gratuitamente pessoas com EM ou outra doença autoimune. A oportunidade de ser um profissional da saúde, poder estudar diversos fatores ligados à EM e, ao mesmo tempo saber exatamente o que esta doença pode causar na minha saúde física ou mental, não só em mim como também nas pessoas com quem convivo, me permite hoje, em parceria com a ABEM, poder dividir experiências, conhecimentos ao falar sobre atividade física e qualidade de vida e o mais importante, criar este espaço onde podemos aprender juntos. Neste primeiro artigo, quero dividir com vocês um “mantra” que não me canso de repetir para todos aqueles que convivem com a EM: RESPEITE SEUS LIMITES. A Esclerose Múltipla como seu próprio nome diz, é múltipla. Ela não tem um padrão pré-determinado de sintomas, surtos ou sequelas decorrentes destes surtos. Devido a diversos fatores como tempo de diagnóstico, tratamento adotado, hábitos alimentares, fatores ambientais, controle emocional, tabagismo, entre outros, o paciente diagnosticado com EM se torna único, respondendo de forma a diferentes estímulos de tratamento e mudança de hábitos e rotinas. Puxando um pouco a conversa para meu ramo de atuação, um grande número de estudos já comprova a importância da prática de atividade física regular. Esses resultados mostram não apenas um aumento no tempo de reincidência, como também a diminuição na intensidade dos surtos. Além disso, a atividade física pode auxiliar na reabilitação de padrões motores ditos normais, um trabalho realizado em parceria com fisioterapeutas e médicos e que tem se mostrado muito eficiente no que se propõe. Daí você me pergunta: Professor, meu médico me liberou para treinar (importante), mas há muito tempo não faço nenhum exercício. Por onde posso começar? Você imagina qual a minha resposta? Primeiramente, RESPEITE SEU CORPO E AS LIMITAÇÕES IMPOSTAS PELA ESCLEROSE MÚLTIPLA OU PELO LONGO TEMPO INATIVO. A partir daí podemos começar a pensar no planejamento do treinamento, volume, intensidade etc. Algumas pessoas com EM são capazes de correr maratonas ou pedalar centenas de Kms, outras talvez não consiga andar 50 metros e por isso é importantíssimo respeitar a individualidade fisiológica, muscular e emocional de cada um. Não existe uma “receita de bolo” dizendo que 5, 10, 50 ou 500 minutos do exercício A, B ou C são necessários para garantir uma boa qualidade de vida para pacientes com EM. Olhando por um outro prisma, assim como o sedentarismo não faz bem para a saúde, a prescrição de determinados exercícios para aqueles que não estão aptos para executá-los física ou neurologicamente, pode ser prejudicial. É importante ressaltar que quando falamos de exercícios físicos, apenas os exercícios de altíssima intensidade, como os estímulos anaeróbicos e os exercícios de longa duração (acima de 60minutos contínuos) devem ser evitados em pacientes com EM. Além de elevar muito a temperatura corporal, eles podem causar estresse físico. Somente pacientes com histórico de anos de treinamento nessas condições, que estejam preparados fisicamente e acompanhados por seus médicos e treinadores devem optar por tais treinos. Cada caso é único e, assim como o tratamento médico, sua rotina de treinos deve ser individualizada. Procure profissionais capacitados e converse com seu médico para que, através da prática continuada da Atividade Física você possa ter dias mais tranquilos e saudáveis. Como começar? Aí já é papo para um outro artigo. Um ótimo final de semana a todos e bons treinos!