Cristina Rey, amiga, parceira de treino e professora de Educação Física, me perguntou: – Chico, vamos jogar Tchoukball? E eu perguntei: – O que e Tchoukball? Ela só respondeu dizendo: – Vamos! Você vai gostar! – E assim fomos, após um treino de funcional, numa sexta-feira. Quando ela me contou sobre o local, fiquei surpreso. Seria em um colégio chamado Rainha da Paz, muito perto de onde treinamos. A coincidência? Como muitos sabem, a escalada é meu esporte de alma e coração. Tive a honra de participar por um tempo da equipe da Associação Paulista de Escalada Esportiva e, nesses anos participei ativamente dos festivais escolares com o meu amigo e professor Denis. Sendo que, um desses locais era este colégio, que possui uma parede de escalada para as crianças. Quando chegamos ao treino, que era na quadra onde havia a parede, sorri ao lembrar das crianças escalando naqueles campeonatos e se superando. Logo, fui apresentado àquele grupo muito simpático, reconhecendo imediatamente uma das atletas – a Alessandra. Pois, seus filhos participaram de vários festivais de escalada e depois, o Reinaldo e a Monica. Me senti em casa. Eu tinha meus receios, apenas não os demonstrei. Estava retornando para esportes coletivos depois de um bom tempo. Já havia tentado em duas ocasiões, como me precipitei no processo de retorno, não obtive bons resultados. Por conta disso, já optava há alguns anos por esportes com parceria, mas com resultados individuais. Com a ajuda desses novos companheiros, consegui resgatar minha confiança em fazer parte de um esporte coletivo, desenvolver novamente a destreza individual, orientação, equilíbrio e força, trabalhando as funções cárdio-vasculares e neuromusculares e muito mais, o espírito de equipe. Pois, um atleta desse esporte tem a responsabilidade pelo arremesso ou passe, mas tem sempre a sua equipe em volta para ajuda-lo. Afinal, o que é o Tchouckball? Peguei um texto do site da Associação Brasileira de Tchoukball para que possam entender melhor: ”O Tchoukball é um esporte coletivo, jogado entre duas equipes com sete jogadores em uma quadra com as dimensões da quadra de basquete (regras oficiais) com uma bola e dois quadros (semelhantes a trampolins, inclinados a 55º), cada um posicionado de cada lado da quadra (comprimento). O objetivo da equipe atacante consiste em fazer com que a bola rebata em um dos quadros para que ela caia na quadra, sem que a outra equipe a recupere. Na prática, não há um lado para cada equipe; o campo de jogo é compartilhado por todos. Para arremessar no quadro é permitido até três passes para cada equipe. Durante o ataque, a outra equipe não pode interceptar a bola ou atrapalhar o adversário. Todo ato de perturbação ou obstrução de jogo é proibido, o jogador de tchoukball – no ataque ou defesa – pode desenvolver quase todos os movimentos possíveis sem temer ser impedido intencionalmente ou involuntariamente pelo adversário. Ele permite melhorar tanto o nível físico, psicológico e social O tchoukball nasceu dos pensamentos do Dr. Hermann Brandt durante os anos 1960. No decorrer de seu trabalho, este médico de Genebra se deparou com um grande número de atletas que se lesionavam durante a pratica esportiva.” Ou seja, é um esporte coletivo que recupera de lesões e o psicológico. Era tudo o que eu precisava. No primeiro ano de adaptação, nosso time foi ganhando, algumas dificuldades apareceram e um vice-campeonato brasileiro surgiu. Aconteceu em Maresias, nosso técnico, o Rogério, nos ajudou muito em nos tornarmos uma equipe. E assim, no ano seguinte, em 2016, houve superação, com muitos treinos, dedicação, disciplina tática, melhoras individuais de todos, entrosamento, respeito e cada um sabendo que podia contar com a equipe em defesa, ataque e o principal de tudo: a solidariedade nos momentos difíceis. Somos um time misto, formado por homens e mulheres, onde não existe discriminação. Se um está mais em forma que o outro ou se alguém tem mais habilidade. De onde você menos espera uma surpresa surgirá, basta acreditar. O resultado disso tudo nesse ano, foram dois campeonatos brasileiros. Um na quadra e outro na areia, com convocações para a seleção brasileira de Master. O mais importante não foram os títulos, mas sim, sermos capazes de fazer parte de grupos que nos apoiam e nos aceitam como somos. Quando o campeonato terminou, no ano passado, na praia de Maresias, após as comemorações, choveu muito. Mas mesmo assim, me veio pensamentos da turma de 1981. Lembrei de ter aceito todos com eram, sem preconceitos, pois eles precisavam da minha força e sabiam que podiam contar comigo. Lembrei-me da bolada que levei no rosto no jogo da final e o Marcelo me dizendo: – Levanta, guerreiro! Vamos ganhar! Lembrei daquelas pessoas consideradas errantes e renegadas vencendo seus desafios e comemorando muito quando ganhamos as duas olimpíadas. Então, me virei e agradeci em silêncio à essa turma do Tchoukball que me aceitou sem nenhum problema, mesmo sabendo que sou paciente de Esclerose Múltipla, pois quando alguma dor ou estafa me incomodava, sabia que poderia contar com eles. Estavam sempre ali me levantando e dizendo: Vamos em frente guerreiro! Ah, sobre o acordo com meu amigo Marcelo, de passar de ano e ele montar o time lá no colégio… Sim, ele passou e comemoramos muito. Depois de alguns anos morando em São Paulo, sempre fiz questão de ligar para meus amigos no natal ou ano novo, e a última vez que nos falamos, rimos das nossas histórias no lapso de tempo que nos foi dado, caminhando pela vida com muito mais coragem e força. E assim, nos despedimos: Valeu, Guerreiro! Obrigado! Então agora é minha vez de dizer: MUITO OBRIGADO! VALEU GUERREIROS! GOOD VIBES