No momento do diagnóstico da Esclerose Múltipla levamos aquele choque e depois entramos num processo de negação e de aceitação, que muitas vezes é doloroso e demorado. Junto com esses sentimentos vem também revolta e inevitavelmente a pergunta: “por que comigo? Por que eu?
Depois de quase dez anos de diagnóstico confesso que sempre estou às voltas com esses sentimentos. A cada surto, a cada tombo ou a cada remissão de sintomas, vem a tona essas questões.
As dificuldades que vão aparecendo nos forçam sempre a fazer esse exercício de aceitação e superação. Explico: no início não usava qualquer tipo de apoio para caminhar, depois de muitos tombos e pontos passei a usar uma bengala, difícil aceitar o uso da bengala e a aceitação desta condição só veio depois, novamente, de vários tombos e pontos.
Infelizmente não parou por aí: mesmo com uso da bengala, andava mal e sentia muita fadiga e dor nas pernas, diante disso comecei a usar o andador com quatro rodinhas e um banquinho para sentar. Mais uma vez tive de mudar minhas perspectivas e aceitar o uso deste “equipamento”.
Tudo que não é natural causa estranheza a quem vê e aguça a curiosidade. O problema é quando sentimos a dor do preconceito. Com uso do andador muitas vezes as pessoas olham com o canto dos olhos e cochicham entre si, estranhando aquilo e claramente julgando-me, por conta do uso deste objeto.
Ainda existem as crises e os surtos, que cada vez que se aparecem nos joga para baixo, deixando-nos muito perdidos e mais uma vez temos de aceitar e superar, fazer pulso terapia, às vezes trocar a medicação de controle, tomar corticóide por um período prolongado, o que traz muitas incertezas e medo.
Com o passar do tempo, convivendo com a patologia entendo que esse processo de aceitação e superação é constante, pois os sintomas são recorrentes e intermitentes. Ora estão mais evidentes e ora estão “quietinhos”, sem qualquer manifestação, parece que até desapareceram completamente, só que não, a qualquer momento eles podem voltar.
Ter a consciência disso é fundamental, para nosso fortalecimento e aprendizado sobre a patologia. Preparados para as mudanças nunca estamos, porém se tivermos força e essas idéias de aceitar e superar conseguiremos ir em frente, firmes e fortes.
Portanto, o importante é procurarmos conhecer mais e mais a patologia, nos conhecermos para podermos praticar sempre esses dois preceitos: aceitar e superar.
Ter uma doença crônica e que não tem cura exige muita perseverança e vontade de viver bem, da melhor forma possível.
Repito não é fácil, exige muita consciência e amadurecimento, que somos “obrigados” a adquirir para vivermos bem e com qualidade.
Não queremos apenas sobreviver, queremos viver, amar, realizar, planejar, estudar, trabalhar, afinal de contas somos humanos e temos esses direitos.
O importante é não perdermos nossa vontade e garra de lutar sempre. Os medos virão, bem como as incertezas, mas a nossa força tem de ser maior.
Portanto, as palavras de ordem são: FORÇA, FÉ E FOCO!