Tocando em frente

Oi! Hoje eu quero falar sobre acessibilidade, esta palavra que, nos últimos anos, acabou se tornando um dos assuntos mais comentados na mídia para chamar a atenção sobre o direito de ir e vir dos deficientes, que desejam levar a sua vida sem precisar enfrentar mais dificuldades e obstáculos do que a maioria da população. Só que eu não gostaria de falar sobre rampas, guias rebaixadas ou corrimão nas escadas — melhorias essas que são mais do que sempre necessárias, mas quero fazer uma reflexão sobre como o deficiente costuma ser ele mesmo acessível, é isso mesmo, o quanto ele é compreensível, descomplicado e direto (três sinônimos da palavra acessível), para lidar com as mudanças na sua rotina? Neste caso, não estou me referindo às sessões de fisioterapia, mas sobre o quanto passa a ser natural para ele lidar com as alterações que possam surgir, eventualmente, no seu corpo, e na sua vida (depois do primeiro susto, claro!).

Fácil eu tenho certeza de que não é e acredito que nunca vai ser (estou exagerando?), mas a vida segue, e, goste ou não, o paciente tem que se acostumar com uma nova situação da melhor maneira que puder. Eu quero falar, sobretudo, dos deficientes que deixam de se interessar por qualquer outro assunto que não seja sobre remédios, consultas e sintomas, abrindo mão até do convívio familiar e social que podem fazer toda diferença – positiva, sim – no que está acontecendo à sua volta. Ter compromissos como ir a uma sessão de cinema ou de teatro, encontrar amigos no bar para um bate-papo, ou ir a um restaurante para um almoço ou jantar são muito difíceis de acontecer, senão quase impossível para algumas pessoas. Claro que tudo isso pode ser viável se o deficiente estiver acompanhado por um parente ou cuidador, mas e quanto à sua independência para fazer alguma coisa que ele quer e nem sempre quem está ao seu lado está a fim? Como faz, não faz? Deixa pra lá?

É compreensível imaginar que as pessoas tenham certo receio para enfrentar situações novas, o tal medo do desconhecido. E também a gente tem que considerar que cada caso é um caso e, exceto por raríssimas exceções, na grande maioria das vezes não dá mesmo para se fazer tudo o que se quer. Agora, o que não dá para acontecer é a pessoa se vitimizar, abrindo mão de fazer coisas agradáveis que podem lhe trazer prazer e satisfação. Por experiência própria eu falo que isso é fundamental para o meu bem estar, até para elevar a minha autoestima. É bom demais fazer coisas que me trazem alegria e diversão!

Certa vez eu ouvi que o ser humano tem que ser o protagonista da sua própria vida… Eu não me lembro do autor da frase, mas concordo com ele inteiramente. As Paralimpíadas, aliás, tem comprovado esta tese, mostrando verdadeiros protagonistas do esporte, certo? Para finalizar, quero lembrar a música Tocando em frente de Almir Sater que diz “cada um de nós compõe a sua historia, cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz” (é inspiradora!). Se esta não for a doutrina diária de todas as pessoas, sobretudo dos deficientes, não adianta a cidade se programar para fazer mais adaptações. Também depende dos deficientes a sua melhor qualidade de vida.

A gente se vê na ABEM!