RAÍZES

Subir em uma árvore, quando criança era uma das minhas especialidades e fascínio. Tive muitas oportunidades nesse período da minha vida. Morei em uma casa em Santa Felicidade, um bairro típico de Curitiba, da qual tínhamos três delas; dois pessegueiros e uma Figueira, a minha predileta. Era a mais difícil de escalar, mas a que tinha figos enormes e tinha sua recompensa.

Ficar ali por aqueles momentos, sentindo o vento, as folhas se movimentando. Mas sempre olhava a base daquela arvore. Para minhas pequenas mãos, eu não conseguia abraça-la toda e como era forte o seu tronco, mas o mais incrível e que em suas formas eu conseguia saltar e ir até o mais alto que me permitia. Não sei se já perceberam, mas os maiores frutos ou os mais saborosos parecem sempre estar no alto. Teve uma viagem que fizemos ao Nordeste na minha adolescência, aonde aprendi a subir em coqueiros bem altos ( a primeira vez foi um desastre) rs, mas era a maior festa quando voltava com os côcos para o ônibus que viajávamos, mas o que me impressionava era a altura e a estrutura firme deles  que me davam a segurança para escalar.

E nesses anos  que se passaram, quando eu tive a oportunidade eu subia em alguma árvore que me sustentava em suas raízes, muitas vezes ficar ali parado no topo  como fazia ainda muito jovem, interagindo com a natureza, escutando o som e sentindo o movimento que nos proporciona, como se fosse um abraço, paz de espírito.

Vou contar uma passagem que aconteceu comigo logo depois do meu diagnóstico da Esclerose Múltipla. Já havia um ano que eu estava tomando toda semana injeções de Avonex para ajudar no meu tratamento. O primeiro ano e cheio de dúvidas, receios e medos de estar fazendo alguma coisa fora do nosso alcance. E a fase que eu chamo de adaptação. Eu já estava voltando a praticar esportes e levar a minha vida da forma que eu podia. Uma tarde de sábado fui jogar futebol em um campo de várzea na zona norte de São Paulo. Estava esperando a hora do jogo, tinha chegado cedo e fui me abrigar debaixo de uma árvore. O sol estava forte e fiquei encostado nela. Olhei para cima e disse boa de escalar. Como não tinha ninguém por perto ensaiei o primeiro ato de subir e escorreguei. Pensei você não tem força para isso ainda.

Dei a volta e vi que tinha uma situação melhor e foi assim, como em um passe de mágica, fui subindo sem nenhum problema e me sentei ali em um tronco confortável sentindo os mesmos sons e movimentos que sentia. Meus amigos chegaram logo depois e perguntaram o que eu estava fazendo ali e disse: vendo o campo aqui de cima podemos traçar uma estratégia para vencer o adversário e rimos até. Ao descer daquela árvore, a toquei e agradeci por ter me sustentado com tanto carinho em um momento de superação. E nunca mais deixei de subir e acreditar.

Há quase dois anos estive em um parque na República Tcheca, chamado TEPLICKE SKALY, aonde existe o maior labirinto de rocha maciça da Europa e uma floresta em volta. Estava acompanhado da Vera uma amiga de lá e seu namorado, quando chegamos em uma encruzilhada que me impressionou. Gigantescas raízes de árvores como colocadas ali no caminho propositalmente. Tinha um guia acompanhando um grupo e perguntei por curiosidade e ele me disse que eram raízes de arvores que eram seculares e que tiveram seu tempo mas deram espaço para outras tomarem seu lugar, mas ficariam ali para sempre como lembrança.

Nesse momento pedi a Vera que tirasse uma foto minha com aquela raiz, como ela representasse a minha primeira árvore que subi e meu deu forças para criar novas  raízes pela minha vida e pelos caminho que escolhi trilhar, não esquecendo nunca daquelas que deixei e fixei por aí, como uma lembrança de que algum dia me fizeram superar e lutar por uma causa, sentindo paixão e aproveitando a cada momento, o dom que recebi. Plante as suas raízes, suba em suas arvores. GOOD VIBES