Reféns do espelho

A maioria das mulheres trava uma batalha, muitas vezes cruel, contra o próprio corpo. Vira e mexe, queremos mudar algo em nós mesmas e, sejam anônimas ou celebridades, dificilmente estamos 100% satisfeitas com a nossa aparência. E a culpa é de quem?

Vivemos à mercê do estereótipo de beleza imposto pela moda e pela mídia. Só se mantém no padrão quem nasceu agraciada pela magreza natural ou vive dessa indústria e é capaz de passar horas por dia em uma academia para modelar cada músculo. O problema é que essa imposição midiática muda a forma como as pessoas se enxergam e como veem umas às outras. Daí surgem os preconceitos, problemas de autoestima, imagem deturpada de si mesmo, transtornos alimentares e tantos outros.

Recentemente, a atriz Estefani Abiaquila, de 28 anos, foi mais uma dessas vítimas. Ela compartilhou em seu Facebook uma foto de quando estava em uma festa com amigos (veja foto no início do texto), mas, além das curtidas e reações, também recebeu uma mensagem, no mínimo, constrangedora. Um colega da época da escola enviou o seguinte texto: ‘Em nome dos momentos e amizade bacana que tivemos queria te dar um conselho. Roupa com barriga de fora é pra quem tem corpo, fora isso tá passando vergonha’.

“Quando vi que ele tinha me mandado mensagem, fiquei muito feliz porque fazia tempo que não nos falávamos, mas quando li o conteúdo fiquei sem reação. Na hora pensei em xingar, postar no Facebook e marcar ele, mas achei melhor visualizar, não responder e excluí-lo, para não reforçar o discurso de ódio”, relata Estefani. E, para ajudar a combater o preconceito, a atriz resolveu compartilhar sua experiência em sua página, mas o que ela não esperava era receber o apoio dos familiares, amigos e até de estranhos. Muitos tiraram fotos de suas barrigas e compartilharam na rede social criticando o ataque à amiga. “Eu fiquei emocionada com o carinho, recebi várias mensagens de apoio e depoimentos de pessoas dizendo que já passaram pela mesma coisa”, fala.

“Infelizmente, a mídia vende que o bonito é a mulher branca, de cabelo liso e magra. E eu sou totalmente o contrário. Não foi fácil eu me aceitar, precisei de amigos me mostrando o quanto eu era linda do jeito que eu sou. As pessoas não podem ser reduzidas à beleza física, existem coisas mais importantes que isso”, reflete.

Não sei quando elegemos alguém para ditar o que e quem faria parte do mundo fashion. Não sei como fomos capazes de permitir que todos esses estereótipos fossem aceitos e transformassem nosso paladar estético. Não lembro onde eu estava quando os corpos se tornaram mais importantes do que as pessoas.

Mas eu sei quando isso vai acabar. Quando eu e você pararmos de acreditar nessas mentiras. Quando não aceitarmos mais nos moldar à opinião de pessoas que nunca se dariam o trabalho de conhecer nossa história. De dar audiência para quem só tem um único objetivo: sugar nosso tempo, paz de espírito, dinheiro e, depois de ter extraído a última gota, abandonar nossos restos no meio da estrada. Essa revolução começa em você.