GOLEIROS – Alguém tem que defender – parte 2

Chegando a São Paulo, já havia jogo no domingo. Alias, explico melhor. Todas as minhas vindas a São Paulo, meu avô Roberto e meu primo Luiz, sempre me levavam para jogar em algum lugar ou íamos a algum estádio ver jogos. Como era bom assistir aos jogos, torcidas saindo juntas, assistindo jogos ao lado de amigos. Tive contato com muitos jogadores e ex-jogadores de futebol, algumas partidas juntos, lembranças que nunca se apagarão. Meu avo jogava em um time de domingo e por várias vezes íamos juntos, ele foi avô muito cedo e isso contribui por jogarmos juntos, e assim foi até os seus 79 anos, acreditem.  Já sabendo que não iria ser mais profissional, me divertia, mas mantinha meus ensinamentos, então em  alguns campeonatos de festivais tive o privilégio de se sagrar campeão.

Um dia meu primo, o Luiz me disse; “Vamos até o Santa Marina, um time de fábrica, que tinha um campo e um pequeno estádio, jogar e ver se aprovam a gente?”
Eu topei estava com 18 anos, o ano de 1985. ele também teria sido um excelente profissional era rápido  e tinha muita categoria, como também contavam de meu avô, mas os nossos destinos foram para jogar na várzea paulistana. Fomos aprovados, e jogamos lá por dois anos, fiz dois amigos, O João  e o Marcelo, éramos como irmãos no campo.  Eles eram primos, um lateral direito e outro centroavante. Estávamos ganhando vários jogos e um campeonato que existia, mas em um final de semana eles tiveram que fazer uma viagem a Campo Grande/MS é um acidente fatal acabou levando meus amigos, soube da notícia no sábado seguinte, aquela época a comunicação era diferente. Lembro até hoje no vestiário, como eu chorei. Até que meu treinador o Adilson me entregou a camisa do time que era Azul é disse, jogue por eles.  E foi assim, ficamos invictos por um ano.  Eu vibrava a cada vitória e jogo, quando jogávamos fora  o ônibus que nos levava de volta, cheio de alegria e eu lá pensando meus amigos estão felizes também.  Essa conexão existia  pois dávamos muita força quando estávamos em dificuldade no jogo e sempre riamos muito. Até dos erros.

Os anos passaram, os times mudaram, jogadores diferentes, vitórias, empates e derrotas.  Tive um breve retorno a Curitiba por um ano, trabalhando por uma empresa, joguei em um time que meu ex-treinador tinha montado, morei do lado do estádio do Atlético paranaense, ia assistir aos jogos, foi um ano de aprendizado, mas retornei a São Paulo. No time da empresa a Giroflex tinha um time que jogava amistosos e lá fui eu. O ano era 2003, meu avô havia falecido, foi um ano complicado em todos os sentidos, na minha vida pessoal e profissional. Então em um sábado, em um jogo da empresa contra um time famoso da várzea, fui dar um chute na bola, depois de uma defesa e ela foi para trás, senti uma fadiga enorme, um cansaço. Começou ao final do jogo um formigamento na ponta do dedo, estendeu na semana ao braço esquerdo e perna, depois ao pé direito. Fui a ortopedistas, injeções, nervo pinçado. Nada disso, depois de 17 dias no Hospital São Luiz o diagnostico: ESCLEROSE MULTIPLA.

Vieram então as proibições, cuidados e tudo o que possam imaginar. Depois de quatro meses e aqueles corticoides fazendo efeitos, decidi com a ajuda de meu médico a voltar a praticar esportes e jogar futebol. E meu primo novamente me levou a um time chamado 7 de Setembro da freguesia do ò e por lá joguei , até uma copa chamada Kaiser, famosa aqui em São Paulo. Mas sentia que oscilava muito. Então resolvi sair de cena. Pensei é o avanço da doença.

Mas nunca desisti, comecei outros esportes, movimentar o corpo e aí o destino bateu a minha porta. Vi uma reportagem do Ex Goleiro Zetti, que ele tinha montado uma academia de goleiros, chamada Fechando o Gol.  Que fica no clube Banespa, aqui na zona sul de São Paulo e já no outro dia, me inscrevi e comecei a treinar, só depois de alguns meses é que disse ser portador da EM.  Lá eu conheci vários treinadores; o Felipe,  Tales,  Júlia,  Roberto, Jefferson ,  Wellington e o Renan (que escreveu um belo livro de treinamentos de goleiros). Meus amigos, goleiros para sempre, Bunyu, Zé, Gerson, Rodrigo, Nyldo, Evander, Luís Bianconi, Arnaldo, Valdir, Bruno Sato, Raphael, Nicholas, Edu, Vagner, Eudes, Caio, Danilo, Marcel e tantos outros. Lá tive apoio, voltei a ter agilidade, força, concentração, disciplina, fizesse sol ou chuva lá estávamos todos juntos treinando, se aperfeiçoando. Lembro-me de um treino com o Tales ele jogava a bola na parede e o objetivo era a deixar quicar no chão apenas uma vez, eu estava treinando com garotos de no máximo 17 anos, dei uma corrida daquelas e peguei a bola, fui cumprimentado por todos, ou seja, eu estava de volta, eles nem imaginam o quanto essa época treinando com eles significou para mim. Decidi ir para outros esportes, pois precisa ir para as montanhas, mas sem eles nada disso teria acontecido. Fui visita-los há dois meses atrás, fiz um treino e quem sabe logo estarei lá de novo, treinando com amigos.

Quando escolhi ser goleiro, sabia que ia estar em constante desafio. Que seria a antítese do jogo, ou seja, defender o maior prazer de uma multidão que é gritar, gol. Defender um time, um causa, não podendo errar passar às vezes fazendo defesas o jogo inteiro e tomar um gol no último minuto ou por uma pequena falha ser julgado.  Ser goleiro é aprender a ser solitário, mas convicto que seus amigos estão ali para apoia-lo, ser bravo, corajoso, autossuficiente, saber saltar, cair, ter velocidade, flexibilidade, presença, coordenação, resistência, firmeza, capacidade de atenção múltipla, força de vontade, inteligência e tantas outras qualidades. Então  me lembrei que não foi apenas uma escolha no meu primeiro treino na tarde fria de Curitiba, quando o meu treinador Zezinho perguntou em qual posição eu jogava, eu na verdade estava me preparando para o futuro que nem imaginaria qual seria quando a EM surgiu como um atacante prestes a fazer um gol, eu então já havia me preparado  a reagir e não desistir,  PORQUE ALGUÉM TEM QUE DEFENDER, até o fim, GOOD VIBES.